são como o mar revolto.
revoltos dentro de si, perdidos no vai-e-vem de ondas, de redemoinhos temporais.
alargam a vontade para além de seu tempo, de sua paz, de seus amores, das conveniências...
são teimosos, navegam contra a maré do tempo.
navegam contra a razão, contra a efemeridade de ser, contra as geografias...
se perdem em ondas sonoras, em ondas de saudade ecoada.
são tão leves que se confundem na areia.
são tão densos que se perdem no mar.
no mar de tudo que sou, no oceano do outro, no eterno mistério de desconhecer.
porque o desejo é querer navegar o desconhecido.
é ter olhos de estrela enquanto navego olhando para o céu.
o céu e o mar noturnos são um só.
são o horizonte perdido no tato de quem quer tocar.
...
os desejos atemporais são leves como a efemeridade,
e persistentes como quem caminha em linha equilibrista, atravessando os tempos sem se abater.
eles nunca perdem a força,
nunca ficam fracos de nostalgia,
[não possuem o vivido para viver]
apenas dormem, quando os deixamos cair no profundo mar.
e toda a vez que o mar se revolta eles batem nas rochas,
quebram em luz branca, jogados de volta para superfície.
[para a pele tão sensível de desejar]
tão luminosos, tão visíveis, e de geografia tão fugaz.