20.3.12

Ilusão mental e des-ilusão meditativa *

cuide para a hibernação não virar o sono em espiral.
adentrando-se terrivelmente em si mesmo.

espiral em reverso, só tem olhos para o exterior.
enquanto o interior afoga-se em si mesmo no azul profundo.
[azul profundo de oásis-abissais]

no espiral em reverso, hibernamos com olhos distantes.
olhos imóveis.
olhos esquecidos.

...não de si mesmo, mas de sua propulsão interior.
[você nunca achará nada no exterior que não haja em ti mesmo:
procure com olhos interiores].

curiosamente, a paisagem de encontrar-se é a mesma de onde nos perdemos.
[o azul profundo é neblina negra de olhos fechados]
no mar sem peixes abissais, apague a luz.

feche-se em seu interior.
respire e observe o seu movimento, e a falta de movimento.
respire e infle os pulmões
pulmões de hélio que voam pelo ar,
sugando-o da espiral invertida,
elevando-o na direção da ponte.

quando eu me movimentar,
serei outro como sempre estive em direção de ser.

estaremos todos muito acordados,
correndo na direção de nós mesmos,
e de todo o mundo ao qual estamos ligados, afinal.


* título de uma palestra TEDx por aí, veja aqui.


7.3.12

as plantas fotogênicas

tenho deixado todas as plantas que vou abandonar,
morrerem de palidez um pouquinho a cada dia.
para nada mais importar,
não importa onde estiver.

concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial concentrar no que é essencial.

todas plantas que eram tão vivas de verde e tantas outras cores.
e muito mais que isso.
elas voariam comigo se não tivessem raízes,
mas talvez seja melhor ficarem mesmo onde estão.

...

algumas coisas irão perder a cor como as fotografias mais antigas
[que são ainda mais bonitas assim esmaecidas].
outras vão se desintegrar no caminho, na distância,
no não importar.
outras fingirão puxar meus pés à noite, sequestrando o sono.

...

cada passo distante é um passo mais perto de outro lugar.
respirar outro lugar,
na fotosíntese de outro sol e outro cinza,
é ser o mesmo, e diferente.



29.2.12

Sobre o salto (spirit desire)

...

Spirit desire (face me)
Spirit desire (don't displace me)
Spirit desire
We will fall

Miss me
Don't dismiss me

Spirit desire

Spirit desire [x3]
We will fall
Spirit desire
We will fall
Spirit desire [x3]
We will fall
Spirit desire
We will fall

* trecho da música Teen Age Riot [Sonic Youth, álbum Daydream Nation]
escute, é lindo, eu garanto. [leonilson way of life] - (clique aqui)

... Everybody's talking 'bout the stormy weather...

16.2.12

the master of illusion


If I'm a master of illusion,

I can be a delusion programed.


o fundo da piscina mar

ou: illusion/ delusion

saltarei na água profunda,
[e tão efervescente],
como o desejo flanêur,
como os saltos de bolhas no ar aos olhos,
salpicando de distração o viver.

mergulharei com borbulhas e olhos abissais,
[o salto ornamental em direção à densidade]
até os sons graves indistintos,
os passos graves em direção à luz de pôr-do-sol,
tão distante na estrada cinza,
e tão interior.

o salto será hibernante,
e o fundo do mar cego de luz.

14.2.12

o salto ornamental

...
...
...
Antes do salto, tem a rampa.

e tem os passos em direção à ponta da rampa,
e antes disso uma vida inteira.

a cada passo, uma ansiedade que nos forçamos a anestesiar,
como se os passos pudessem ficar cada vez mais leves, mais etéreos.

Na ponta da rampa a imobilidade.
O olho no fundo do mar, escondido embaixo da superfície calma da água.

Na ponta da rampa a ansiedade é diluída em respiros,
no olhar concentrado que esquece a altura, esquece o mundo à sua volta, esquece a vida inteira atrás da rampa.

no olhar que tenta esquecer a vertigem de viver.

A concentração é longa como os respiros, cada vez mais profundos, cada vez mais voltados para dentro de si.
Os respiros são suaves como os hibernantes.
Acumulando toda a energia durante o sono,
numa movimentação interna muito particular.
De instinto acordado mas de olhos fechados para o redor.

o redor da rampa e da vida atrás da rampa que irá abandonar.

o tempo vira vertigem.
poderia ficar semanas em cima da rampa, hibernando de olho sonhador dentro do mar.

e tão logo nos damos conta o sonho é o que sempre foi - a daydream living, e acordamos já na ponta dos pés, na ponta do salto que o corpo decidiu quando estava pronto, num instante sempre quase exato [e sempre incerto] à pausa do respiro.

hibernamos porque o salto é ornamental:
o salto calculado em cada movimento que no fim é sempre incerto, é sempre a busca de um ideal.
o ideal em direção ao mar revolto.
o mar embaixo d'agua é destino.

é onde a vertigem de viver toca em cada poro da pele.
onde estamos muito vivos, e acordados afinal.


encontrar o deserto.


* frame do filme Howl, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, 2010.