21.8.10

correr.


importa mais a questão:
de onde estou correndo,
ou para onde estou correndo?

...
fugir é caminho para encontrar?

talvez, o importante mesmo seja estar correndo.
a vida é busca, é nela que eu corro.


15.8.10

retroprojetar


Tenho um desejo que virou minha sombra.
Com o sol logo atrás, acabo sempre caminhando sobre ela.

O desejo como sombra é algo que não se consegue esquecer.

Sempre nos acompanha,
e nunca é palpável
nunca se torna real.

O desejo como sombra também é algo que nos segue.

Possuímos afinidades e prefere a minha companhia mais do que todas as outras.

Mas sua matéria é outra,
o encontro é desarticulado.
[se o encontro é desarticulado, seria realmente um encontro?]

...

Como abandonar a sombra?

Desejo ficar debaixo do sol a pino,
quente e cegante.

Depois de cega, verei tudo em branco.
As sombras serão apenas contornos cinzas e distantes.

Se eu não enxergar o desejo, ele simplesmente não estará mais ali.

Terá se convertido em outros tantos.
sombras brancas e delicadas de orvalho.
gotas que caem nos meus olhos enquanto estou dormindo.
água do rio que irei nadar depois de atravessar o deserto.


projetos de insistência 2


Se a insistência muda de lugar,
ainda é insistência?

8.8.10

marcar encontros.


Uma amiga* possui um trabalho que envolve a ideia de encontros geográficos impossíveis:

É um trabalho que desde o primeiro esboço me impressionou e,
como penso muito nos encontros,
torna-se uma experiência de ideia como o mar, que vai e vem.

...

Certas músicas de Mark Lanegan* me transportam diretamente para o deserto.
E sempre penso nos desertos
[na ideia de deserto, e de fronteiras]
de Win Wenders.


Proponho como arte a prosposta de um encontro:
entre os desertos de Win Wenders e Mark Lanegan.


* http://margensdapalavra.blogspot.com
* Escute: Ressurection Song, Field Song e Fix, do album Field Songs.

3.8.10

para Buñuel, sobre a memória


... "Em contrapartida, preocupa-me muito, chego a me angustiar, quando não consigo me lembrar de um fato recente que vivi, ou então do nome de uma pessoa conhecida nos últimos meses, ou mesmo de um objeto. Subitamente minha personalidade se desmorona, se desarticula. Não consigo pensar em outra coisa e, ainda assim, todo o meu esforço, toda a minha raiva são inúteis. Será o começo de um ofuscamento total? Sensação atroz, ter que usar uma metáfora para dizer 'uma mesa'. E a mais horrenda e pior das angústias: estar vivo, mas não reconhecer a si próprio, não saber mais quem se é.

[...]

Indispensável e onipotente, a memória é também frágil e vulnerável. Não é apenas ameaçada pelo esquecimento, seu velho inimigo, como pelas falsas recordações que dia após dia a invadem.
[...]
A memória é perpetuamente invadida pela imaginação e o devaneio, e, como existe uma tentação de crer na realidade do imaginário, acabamos por transformar nossa mentira numa verdade. O que, por sinal, tem apenas importância relativa, já que uma e outro são vividos, ambos igualmente pessoais."

* Luis Buñuel (com escrita do querido Jean-Claude Carriere) em:
Meu último suspiro, ed. Cosac Naify, 2009.

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Sempre acreditei na ilusão como arma poderosa do viver.
A gente vive de acordo com o que acredita, e podemos realmente viver longamente numa história criada.

Mas isso todo mundo sabe, não?
Então, qual a importância desta discussão?

Como boa parte dos meus questionamentos em criação escrita, não desejo chegar num ponto de vista que se torne denominador comum para quem quer que reflita algo a partir daqui.

e hoje não quero argumentar, só afirmar:

ilusão é espaço de vivência.

[e de cantinho, posso ainda me perguntar:]
onde viver com a ilusão?
qual o espaço/ lugar deste viver?

a força com que vivo uma ilusão é a mesma de caminhar todos os dias.