4.8.11

marfim paralisado (e o mar)


Às vezes a paralisia pode nos tomar de assalto de uma maneira irreparável.

Quase sempre inadvertidamente, ela me pega pelos pés.
como o repuxo do mar, arrastando o solo debaixo do meus pés, enterrando-me.

Enterra-me pelos pés.
Ninguém viu meu corpo enterrado, porque ele parece livre.

...

O enterro é ilusão.
Solto facilmente meus pés, a areia nunca pára de mover-se.

... é que é a natureza mover-se, mesmo que não seja na direção do desejo.
[eu só me enterraria se nunca me movesse, mas a areia e a água são fortes porém lentas, e toda vez que olho pro chão e olho pro mar tenho vontade de correr...]

Desejo-megulho.

Fixa olho pro mar, já estou paralisada diante do desejo.
Se a areia me engole, é porque imóvel eu me afundei no aconchego tentador da areia fina, mole como o mergulho.

O desejo e a paralisia andam, assim, de mãos dadas.

me enlaçam em nuvens,
me congelam de olhos fechados na ventania do mar.

........................

Toda vez que venta areia nos olhos olhamos rápido e automaticamente para o outro lado.
tapo os meus olhos, como se o desejo não estivesse mais ali.
o corpo agita-se em ventania,
e rapidamente corremos para o outro lado.


[a tragédia da falta de ilusão é que]
só consigo mergulhar quando o mar já não espera mais por mim.


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