13.1.12

o buraco negro escondido

às vezes um sentimento mal resolvido pode fazer mal.
como uma doença incubada,
ou uma recaída de gripe.

esconde-se uma ferida, um buraco negro.
o buraco negro espiralando, turvando a mente,
sugando tudo à sua volta.

um buraco negro esconde-se como a noite.
o corpo noite esconde o buraco, com a alegria e a tristeza dos dias.
com os dias corridos
com os dias lentos
com os dias objetivos
com os dias de agradável torpor
com os dias subjetivos...

o buraco negro subjetivo revela-se inesperadamente.
às vezes nas situações mais embaraçosas,
às vezes nas situações menos propícias.
sempre inadvertidamente, e quase sempre um choque:
rasgando o dia-a-dia, sequestrando-me do lugar onde sentei.

e é por isso que preciso caminhar, caminhar...
escrever porque cada palavra é um passo para longe do buraco que tudo suga,
porque escrever é ir de encontro não importa para onde.

depois, quando estiver cansada demais vou me sentar novamente
e com toda calma olharei para o buraco-ferida.
[estarei tão pesada que ele não poderá me sugar].

e assim, espero que o buraco cure-se como a gripe,
que vai-se quase sozinha.
se não, a convivência terá de tornar-se amena.
como os comprimidos
a comprimir todos os efeitos, todas as dúvidas, toda náusea mental.


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