uma imagem:
uma pessoa com todas as qualidades para não cantar.
tem timidez.
não tem disciplina.
não tem afinação,
tem ansiedade.
não respira bem
não sabe bem marcar, falar, projetar o som ao longe.
no lugar da garganta
tem um vazio.
[o vazio tem tantos tipos quanto funções]
o vazio de tudo o que se recusou a funcionar e de lá foi embora;
o vazio de todas as frustrações extraídas, aquele das vontades que não germinaram.
o vazio da comunicação não exercida, a fala muda da falta de inspiração.
mas a canção não começa na garganta.
começa no coração alegre, na dor que percorreu todo o corpo.
[e a projeção é antes de tudo mental].
...
outra imagem:
o vazio é uma caixa acústica.
uma caixa interna de vibração e eco.
o vazio é é bomba pulsante.
[se torna vontade propulsora].
e a vibração é a melodia que começou no corpo todo.
no corpo alegre de querer projetar a sua voz ao mundo todo.
e canta, mesmo sem respirar bem pra marcar, falar, projetar o som ao longe.
canta porque a canção começou na alegria e vontade muito intensas,
na frequencia descompassada que é o desejo.
dentro do corpo,
dentro da mente, um salto.
o salto de quem canta a partir do vazio.
a ausência que vai potencializar todo o preenchimento,
da caixa em que cabe todo o desejo do corpo,
a ser emitido em alta frequencia,
derramado em todos os gestos, todas as palavras entoadas, todas as vontades germinadas.
Um comentário:
F.O.D.A
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