30.3.13

o vazio que é o eco.

uma imagem:
uma pessoa com todas as qualidades para não cantar.

tem timidez.

não tem disciplina.
não tem afinação,
tem ansiedade.
não respira bem
não sabe bem marcar, falar, projetar o som ao longe.

no lugar da garganta

tem um vazio.

[o vazio tem tantos tipos quanto funções]


o vazio de tudo o que se recusou a funcionar e de lá foi embora;

o vazio de todas as frustrações extraídas, aquele das vontades que não germinaram.
o vazio da comunicação não exercida, a fala muda da falta de inspiração.

mas a canção não começa na garganta.


começa no coração alegre, na dor que percorreu todo o corpo.

[e a projeção é antes de tudo mental].

...


outra imagem:

o vazio é uma caixa acústica.
uma caixa interna de vibração e eco.

o vazio é é bomba pulsante.

[se torna vontade propulsora].
e a vibração é a melodia que começou no corpo todo.
no corpo alegre de querer projetar a sua voz ao mundo todo.

e canta, mesmo sem respirar bem pra marcar, falar, projetar o som ao longe.

canta porque a canção começou na alegria e vontade muito intensas,
na frequencia descompassada que é o desejo.

dentro do corpo,

dentro da mente, um salto.

o salto de quem canta a partir do vazio.

a ausência que vai potencializar todo o preenchimento,
da caixa em que cabe todo o desejo do corpo,
a ser emitido em alta frequencia, 
derramado em todos os gestos, todas as palavras entoadas, todas as vontades germinadas.