Hoje, por vias tortas* reencontrei o seguinte texto:
O nó das coisas
E fiquei pensando na maravilha inesperada que é ver um texto ainda fazer tanto sentido, tanto tempo depois.
Não é a mesma ocasião
Não é o mesmo acontecimento.
Não é a mesma pessoa que está vivendo, olhando, pensando.
Não é o mesmo sentimento.
é o mesmo sentido-sentimento,
é ser.
ainda ser aquela pessoa.
é porque as angústias nunca se esvaem totalmente.
ou quando esvaem, um dia retornam,
[tudo gira, gira, afinal.
mudamos e ainda somos o mesmo.]
embaixo de outro rosto.
de outra sombra, de outros porquês.
e agora?
e se o texto me diz: dar um tempo.
...
dar um tempo pra entender.
pra viver, decidir, aceitar, transformar, mudar na mesma direção.
ou...
não. nem isto, nada disto.
A resposta que é a dúvida.
Uma vez me disseram: viva a dúvida.
...viver, perguntar dentro, observar, sentir.
Nem tanto entender, quanto: perceber.
...
Tem passos que são para trás.
Outros são parados, paralisados.
[o olho muito vivo de olhar fixamente na direção relaxada das coisas].
às vezes prefiro ser cega.
olhar com a nuca enquanto vou caminhando embora.
outras vezes,
enquanto não percebo vou caminhando na direção outra das coisas.
e eu às vezes não sei se caminho para me encontrar ou para me perder.
e tudo o que tenho são meus olhos muito vivos de procurar perceber,
apesar do coração em nuvens.
___
*por vias tortas: dizem assim: deus caminha certo mesmo que por vias tortas, ou, ele escreve certo por linhas tortas.
Em outras palavras, reecontrar um texto que tinha tanto a me dizer hoje foi providência divida, ou, uma coincidência algo assombrosa.
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