sou formiga ruminante.
trabalhando todos os dias, em silêncio,
devorando lentamente os territórios ao redor.
lentamente.
quando o tempo discorre em ansiedade tudo parece lento ao redor.
às vezes a vertigem não se dá pelo movimento brusco,
mas pelo excesso da tentativa de observar o que discorre lentamente.
...
esqueço-me que ruminar é um processo.
é caminhar todos os dias na direção do desejo.
é sossegar com a mudez,
devorar com os olhos e com o pensamento.
é digerir criando.
desenhando a paisagem de viver
habitando o sonho, a busca, todo o horizonte.
criando - construindo o solo para cada próximo passo na ponte de estrada vertigem.
[pois caminhar é a parte invisível do salto].
ruminando-digerindo-criando.
até todo o alimento virar apenas uma voz.
que soará tão alta
a atravessar os desertos, os mares, as estradas, as vertigens.
até o horizonte mar.
6.11.12
o deserto esconde e releva, como a memória
Não sei
quantas voltas ao mundo possa ter dado nessas semanas sem horas, náufrago de um
horário desnorteado que me lembra quando adoecia na infância e o ar era imortal
então, aqueles dias que logo voltaram para mim porque talvez nunca tenham ido
completamente, estiveram sempre aqui, como um valioso tesouro enterrado no mais
fundo da última gruta do deserto.
*Enrique Vila-Matas em Ar de Dylan, Cosac Naify, 2012.
3.11.12
escrever, desaguar.
....e, no
entanto, poucas coisas parecem tão intimamente ligadas como o fracasso e a
literatura.
*Enrique Vila-Matas em Ar de Dylan, Cosac Naify, 2012.
29.10.12
o relógio é um ser sozinho
existem os relógios sincronizados e existem os relógios que não se comunicam.
ou você está, ou você não está.
não existe um quase, um meio, um talvez.
até parece que não existe o tempo da dúvida,
o tempo da falha.
o engano,
o olhar enevoado.
... às vezes, um dos relógios quebra.
seu funcionamento evade como névoa levada pelo vento,
o pó soprado em nossos olhos.
meu ponto referencial parou.
olhou para o outro lado,
não está.
não importa os porquês
não importam as baterias recarregadas,
já não caminham mais juntos.
existem tantos caminhos quanto existem relógios.
[mas não posso trocar o meu ponto referencial como quem troca a pilha]
a pilha é a ofensa a alma dos relógios.
...
qual a diferença dos relógios, se eles contam o mesmo tempo?
no mesmo passo,
a mesma busca.
importa a estrada.
o mesmo horizonte
o mesmo vento
os mesmos ruídos.
o mesmo cansaço
a mesma preguiça
a mesma raiva,
o mesmo ardor.
o mesmo calor
os mesmos olhos,
o mesmo tato.
a tatear a estrada invisível de tempo.
a tatear as distâncias e proximidades invisíveis de quem está lado a lado,
mirando o mesmo horizonte oásis.
ou você está, ou você não está.
não existe um quase, um meio, um talvez.
até parece que não existe o tempo da dúvida,
o tempo da falha.
o engano,
o olhar enevoado.
... às vezes, um dos relógios quebra.
seu funcionamento evade como névoa levada pelo vento,
o pó soprado em nossos olhos.
meu ponto referencial parou.
olhou para o outro lado,
não está.
não importa os porquês
não importam as baterias recarregadas,
já não caminham mais juntos.
existem tantos caminhos quanto existem relógios.
[mas não posso trocar o meu ponto referencial como quem troca a pilha]
a pilha é a ofensa a alma dos relógios.
...
qual a diferença dos relógios, se eles contam o mesmo tempo?
no mesmo passo,
a mesma busca.
importa a estrada.
o mesmo horizonte
o mesmo vento
os mesmos ruídos.
o mesmo cansaço
a mesma preguiça
a mesma raiva,
o mesmo ardor.
o mesmo calor
os mesmos olhos,
o mesmo tato.
a tatear a estrada invisível de tempo.
a tatear as distâncias e proximidades invisíveis de quem está lado a lado,
mirando o mesmo horizonte oásis.
23.10.12
re-amores
ou golden hour after storn
o melhor sol é aquele que vem depois da chuva.
tingindo o dia e o olhar de alegria.
o melhor sol é aquele que vem depois da chuva.
tingindo o dia e o olhar de alegria.
14.10.12
o sono e a vigília
... as questões da diferença entre ficção/ciência, entre fantasia/verdade que são variantes do binômio sono/vigília... *
Fico pensando na invenção como algo próprio do sono/sonho.
e com isso...
o único modo de estar atento ao mundo, percebê-lo
[observar-estar distanciado da invenção]
é a vigília, o estado desperto.
o estado muito atento às emoções no universo externo particular.
[particular, mas no mundo].
se tenho sono, não observo.
vivo no deserto caminhante.
aquele que perde-se de todas as referências...
aquele que inventa, que cria,
mas que pode viver a delusion programed,
em loopings de viver, em redemoinhos de areia.
como inventar o despertador no deserto?
qual o som que toca para o vento cessar, e os olhos se abrirem de fim de nevoeiro?
nevoeiro dentro de si, mal enxerga o sol.
não enxerga os layers que atravessam as camadas de ser,
por entre as frestas,
do sono, do desejo, do conforto deep on the ground.
areia movediça.
mar repuxo-movediço.
os pés soterrados
os olhos fechados
a paisagem encerrada em névoa
o mundo inventado e real tão esmaecido
o despertador é o sol de fim do dia cinza,
aquele que chega rente aos olhos, invade as frestas
sedutor e incisivo.
mas um convite irregular.
regular deveria ser a vigília, que busca estar acordada com o dia,
e sempre esquece que existem as noites,
sempre adormece de repente,
e às vezes tem vontade de hibernar.
hibernar pesado como os ursos
ou as árvores seculares que caem quando as cortamos.
o peso da noite no olhar obscurece até a invenção,
o mundo que inventarmos-buscamos viver,
aquele cheio de alegrias, desperto como as articulações do relógio.
[a busca do ponteiro são as 12 horas].
e depois outro sol, outro trajeto, mudar como as dunas de areia.
aquele que abre os olhos não enxerga melhor.
[o seu horizonte de deserto nunca muda, ainda que caminhante]
aquele que abre os olhos enxerga onde está.
se eu não me mover, é o mundo que se move.
se eu me movo eu fixo o deserto como fixo o meu oásis.
o mar.
aquela eterna busca inventada, enquanto dormia, enquanto navega.
*texto de João A. Frayze-Pereira, em catálogo sobre obra de Grete Stern, IMS, 2009.
Fico pensando na invenção como algo próprio do sono/sonho.
e com isso...
o único modo de estar atento ao mundo, percebê-lo
[observar-estar distanciado da invenção]
é a vigília, o estado desperto.
o estado muito atento às emoções no universo externo particular.
[particular, mas no mundo].
se tenho sono, não observo.
vivo no deserto caminhante.
aquele que perde-se de todas as referências...
aquele que inventa, que cria,
mas que pode viver a delusion programed,
em loopings de viver, em redemoinhos de areia.
como inventar o despertador no deserto?
qual o som que toca para o vento cessar, e os olhos se abrirem de fim de nevoeiro?
nevoeiro dentro de si, mal enxerga o sol.
não enxerga os layers que atravessam as camadas de ser,
por entre as frestas,
do sono, do desejo, do conforto deep on the ground.
areia movediça.
mar repuxo-movediço.
os pés soterrados
os olhos fechados
a paisagem encerrada em névoa
o mundo inventado e real tão esmaecido
o despertador é o sol de fim do dia cinza,
aquele que chega rente aos olhos, invade as frestas
sedutor e incisivo.
mas um convite irregular.
regular deveria ser a vigília, que busca estar acordada com o dia,
e sempre esquece que existem as noites,
sempre adormece de repente,
e às vezes tem vontade de hibernar.
hibernar pesado como os ursos
ou as árvores seculares que caem quando as cortamos.
o peso da noite no olhar obscurece até a invenção,
o mundo que inventarmos-buscamos viver,
aquele cheio de alegrias, desperto como as articulações do relógio.
[a busca do ponteiro são as 12 horas].
e depois outro sol, outro trajeto, mudar como as dunas de areia.
aquele que abre os olhos não enxerga melhor.
[o seu horizonte de deserto nunca muda, ainda que caminhante]
aquele que abre os olhos enxerga onde está.
se eu não me mover, é o mundo que se move.
se eu me movo eu fixo o deserto como fixo o meu oásis.
o mar.
aquela eterna busca inventada, enquanto dormia, enquanto navega.
*texto de João A. Frayze-Pereira, em catálogo sobre obra de Grete Stern, IMS, 2009.
13.10.12
o deserto abandono
* Fotografias de Álvaro Sánchez-Montañés da aldeia abandonada de Kolmanskop, Namíbia.
.................
o deserto invasor é cheio, é o preenchimento do abandono.
é o suave tempo das dúvidas, das incertezas, dos apagamentos.
o esquecimento.
...
o deserto é caminhante, e procura o desconhecido.
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