Hoje, por vias tortas* reencontrei o seguinte texto:
O nó das coisas
E fiquei pensando na maravilha inesperada que é ver um texto ainda fazer tanto sentido, tanto tempo depois.
Não é a mesma ocasião
Não é o mesmo acontecimento.
Não é a mesma pessoa que está vivendo, olhando, pensando.
Não é o mesmo sentimento.
é o mesmo sentido-sentimento,
é ser.
ainda ser aquela pessoa.
é porque as angústias nunca se esvaem totalmente.
ou quando esvaem, um dia retornam,
[tudo gira, gira, afinal.
mudamos e ainda somos o mesmo.]
embaixo de outro rosto.
de outra sombra, de outros porquês.
e agora?
e se o texto me diz: dar um tempo.
...
dar um tempo pra entender.
pra viver, decidir, aceitar, transformar, mudar na mesma direção.
ou...
não. nem isto, nada disto.
A resposta que é a dúvida.
Uma vez me disseram: viva a dúvida.
...viver, perguntar dentro, observar, sentir.
Nem tanto entender, quanto: perceber.
...
Tem passos que são para trás.
Outros são parados, paralisados.
[o olho muito vivo de olhar fixamente na direção relaxada das coisas].
às vezes prefiro ser cega.
olhar com a nuca enquanto vou caminhando embora.
outras vezes,
enquanto não percebo vou caminhando na direção outra das coisas.
e eu às vezes não sei se caminho para me encontrar ou para me perder.
e tudo o que tenho são meus olhos muito vivos de procurar perceber,
apesar do coração em nuvens.
___
*por vias tortas: dizem assim: deus caminha certo mesmo que por vias tortas, ou, ele escreve certo por linhas tortas.
Em outras palavras, reecontrar um texto que tinha tanto a me dizer hoje foi providência divida, ou, uma coincidência algo assombrosa.
13.3.13
5.2.13
deixar chover Manoel de Barros
... E aquele
Que nunca morou em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com seus fantasmas
Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.
___
*trecho do poema ZONA HERMÉTICA, de Manoel de Barros, em Poesias [1947].
(no livro Manoel de Barros poesia completa, ed. Leya, São Paulo, 2012, p.82)
Que nunca morou em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com seus fantasmas
Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.
___
*trecho do poema ZONA HERMÉTICA, de Manoel de Barros, em Poesias [1947].
(no livro Manoel de Barros poesia completa, ed. Leya, São Paulo, 2012, p.82)
20.1.13
a poeira da dúvida nuvem
vivo a certeza como um mergulho ornamental para dentro do mar.
não importam os redemoinhos, as correntezas, o repuxo.
não importam as chuvas, as tempestades, as trovoadas em alto mar.
a certeza é um raio em direção a um objetivo
o desejo cego que quem não duvida encontrar.
e percorro o desejo com a força intensa de quem foge da areia-movediça.
a areia que engole os passos, a direção, a vontade, o desejo.
...
[descobri que posso ter certeza por muito tempo.
não duvidar mesmo quando duvido, mesmo quando a acidez do deserto ameaça me engolir.]
...
quando se tem certeza por tanto tempo, esquecemos onde foi parar a dúvida.
...
a dúvida pode viver em cada grão de areia que sopro para longe, dentro de casa.
[já não a vejo, não quer dizer que tenha ido embora].
escondo a poeira da dúvida em muitos lugares, e esqueço que muitas vezes a escondo dentro de mim.
[a bola de dúvidas crescendo dentro do peito pode um dia afogar].
.........
... como viver a dúvida?
.fantasma da imobilidade, nuvem pesada de não chover.
...
ter certeza da vontade é tão relativo quanto as nuvens de chuva passageira,
que passam sem dar certeza de suas intenções.
a dúvida é o pesadelo dos inebriados da vontade, alienados de que as dúvidas são nuvens.
...
a dúvida-nuvem vive todos os dias, dos ensolarados aos mais tristes.
podem estar distantes, intimidadas pela vontadade solar, pela alegria vontade projetada.
podem ser grandes, obscuras e pesadas; passageiras ou insistentes.
melhor deixar chover.
deixa chover o choro da dor sublimada, do corpo que se rasga de insistir e não percebe,
chover o choro do corpo cansado na travessia no deserto,
chover a nuvem que embaça o olhar, que endurece o coração sincero da vontade.
...
que chovam todas as dúvidas dentro do peito,
para as nuvens se dissiparem com alegria,
para o sol voltar a brilhar no olhar sem nuvens.
não importam os redemoinhos, as correntezas, o repuxo.
não importam as chuvas, as tempestades, as trovoadas em alto mar.
a certeza é um raio em direção a um objetivo
o desejo cego que quem não duvida encontrar.
e percorro o desejo com a força intensa de quem foge da areia-movediça.
a areia que engole os passos, a direção, a vontade, o desejo.
...
[descobri que posso ter certeza por muito tempo.
não duvidar mesmo quando duvido, mesmo quando a acidez do deserto ameaça me engolir.]
...
quando se tem certeza por tanto tempo, esquecemos onde foi parar a dúvida.
...
a dúvida pode viver em cada grão de areia que sopro para longe, dentro de casa.
[já não a vejo, não quer dizer que tenha ido embora].
escondo a poeira da dúvida em muitos lugares, e esqueço que muitas vezes a escondo dentro de mim.
[a bola de dúvidas crescendo dentro do peito pode um dia afogar].
.........
... como viver a dúvida?
.fantasma da imobilidade, nuvem pesada de não chover.
...
ter certeza da vontade é tão relativo quanto as nuvens de chuva passageira,
que passam sem dar certeza de suas intenções.
a dúvida é o pesadelo dos inebriados da vontade, alienados de que as dúvidas são nuvens.
...
a dúvida-nuvem vive todos os dias, dos ensolarados aos mais tristes.
podem estar distantes, intimidadas pela vontadade solar, pela alegria vontade projetada.
podem ser grandes, obscuras e pesadas; passageiras ou insistentes.
melhor deixar chover.
deixa chover o choro da dor sublimada, do corpo que se rasga de insistir e não percebe,
chover o choro do corpo cansado na travessia no deserto,
chover a nuvem que embaça o olhar, que endurece o coração sincero da vontade.
...
que chovam todas as dúvidas dentro do peito,
para as nuvens se dissiparem com alegria,
para o sol voltar a brilhar no olhar sem nuvens.
21.12.12
entreter o infinito*
... o tempo e a distância às vezes não significam nada.
* Entreter o infinito é um trabalho de uma amiga artista (Mayana Redin) a quem admiro muito.
O trabalho pode ser observado na íntegra aqui: http://www.revistacarbono.com/artigos/01entreter-o-infinito/
outras vezes são tudo, porque transformam ou apagam as notícias, os fatos, sentimentos... ou o que foi dito.
se o texto atravessa a distância da idade de uma estrela, então talvez ele seja imortal.
O trabalho pode ser observado na íntegra aqui: http://www.revistacarbono.com/artigos/01entreter-o-infinito/
10.12.12
me interessam os desertos interestelares...
* parte de obra de Diego Maquieira, exposta da 30º Bienal de São Paulo.
** e vale muito ver o vídeo deste link aqui. [a ficção sabe mais que a realidade]
*** ele ainda diz [aqui]:
Quiero ser poeta de la Nasa, que es donde se está haciendo lo que deberían hacer los poetas, fotografiar lo desconocido...
um deserto [de Manoel de Barros]
Uma espécie de gosto por tais miudezas me paralisa.
Caminho todas as tardes por este quarteirões
desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.
* não tenho a menor ideia de qual livro o texto se encontra.
Mas existe a suspeita de que seja do “Tratado geral das grandezas do íntimo”
Caminho todas as tardes por este quarteirões
desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.
* não tenho a menor ideia de qual livro o texto se encontra.
Mas existe a suspeita de que seja do “Tratado geral das grandezas do íntimo”
7.12.12
as rasteiras silenciosas de amor
são sempre insperadas, um golpe.
desconfigurando o movimento, o rumo, o horizonte.
amor - vertigem
um lapso temporal, sem precedência ou destino.
amor silencioso manifestando-se em voz alta.
vai-se embora tão rapidamente quanto chegou, sem dizer adeus.
adeus, adeus.
vá logo antes que eu sinta saudades.
....................
a rasteira silenciosa é aquela que nada diz,
[exceto: oi, estou aqui. existo em silêncio, e você ouve.]
um arrebatamento para outro lugar, um lapso da vontade.
...
só existimos para o outro quando somos percebidos.
e se eu não desejar ser percebido pelo objeto que desejo
viro redemoinho, abismo de vertigens.
...
ele é inativo como os mares sem ondas
permanente na distância.
mar de profundidade escondida na calma superfície
mar negro - para esconder o sentimento
o movimento que só existe por dentro - somos peixes abissais.
...
abissal é o desejo pelo que não se pode atingir,
desejo pelas profundidades nunca alcançadas
distantes com o horizonte.
miradas como o oásis.
...
mas já não miro mais o oásis.
e não tenho medo de navegar as ondas
de percorrer o instinto faminto de desejar.
o desejo me leva para outros mares.
e se eu levo golpes, é porque evito olhar para trás.
desconfigurando o movimento, o rumo, o horizonte.
amor - vertigem
um lapso temporal, sem precedência ou destino.
amor silencioso manifestando-se em voz alta.
vai-se embora tão rapidamente quanto chegou, sem dizer adeus.
adeus, adeus.
vá logo antes que eu sinta saudades.
....................
a rasteira silenciosa é aquela que nada diz,
[exceto: oi, estou aqui. existo em silêncio, e você ouve.]
um arrebatamento para outro lugar, um lapso da vontade.
...
só existimos para o outro quando somos percebidos.
e se eu não desejar ser percebido pelo objeto que desejo
viro redemoinho, abismo de vertigens.
...
ele é inativo como os mares sem ondas
permanente na distância.
mar de profundidade escondida na calma superfície
mar negro - para esconder o sentimento
o movimento que só existe por dentro - somos peixes abissais.
...
abissal é o desejo pelo que não se pode atingir,
desejo pelas profundidades nunca alcançadas
distantes com o horizonte.
miradas como o oásis.
...
mas já não miro mais o oásis.
e não tenho medo de navegar as ondas
de percorrer o instinto faminto de desejar.
o desejo me leva para outros mares.
e se eu levo golpes, é porque evito olhar para trás.
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