2.10.11

o deserto silêncio

ou O Deserto Imaginado:

John Lurie, um cara de melodias fantásticas tem duas músicas são propostas para ouvir em sequência:



entre a ação de sequestro [levo embora comigo o meu objeto de desejo] e o sonho vivido, um breve silêncio corta as duas músicas.

um milhão de possibilidades ao atravessar o deserto silencioso.


*John Lurie, ouvir o álbum African Swim and Manny & Lo.
Delírio.


29.9.11

emoção em looping:


Revirar os olhos.
Correr.
Olhar para os lados.
Passar o dia deitado na cama em silêncio. [Chris Burden performance]
Não conseguir se mexer.
Não conseguir parar.
Viver-correr.
Abrir portas [e não ter coragem de fechá-las].
Ir conforme a correnteza.
Vertigem.
Indefinições.
Indecisões.
Ver.
Esquecer-se da impermanência das coisas [das pessoas, das relações, dos interesses, da vida].
Rir compulsivamente.
Chorar compulsivamente.
Certas canções.
Mergulho.

Todas as coisas que me causam a alegria mais franca e ensolarada são também as mais efêmeras [escorrem como água pelos dedos...]
Mas as torneiras estão em todos os lugares, é apenas uma questão de ver.


29.8.11

a matemática e o amor

Tenho muito amor, ele pode ser dividido em muitas partes, assim:


Mas tenho apenas algumas pessoas para quem quero dá-lo, assim:


Às vezes, um estranho rouba o meu olhar:


E tenho vontade de dá-lo tanto amor...
[mas o amor deve ser dado a quem esteja disposto a receber].

Tenho tanto amor e uma pequena cota a quem desejo dá-lo.
Sobra amor e sobram pessoas...
[geografia discrepante]

Com o amor acumulado meu coração soluça e sofre algumas taquicardias...
Está inflado, tenho válvulas trancadas.

Ele não explode, mas às vezes dói
[e soluça baixinho pra ninguém ouvir...]

Onde colocar o amor?

A matemática pode ser usada em setas:


tenho muito amor e várias pessoas,
nem todas podem ou merecem recebê-lo.
conta desviada, seta desviada-desvairada.
A seta desvairada é o amor em fuga de mim,
uma válvula de escape.

Acontece que as válvulas descem do meu coração até as minhas mãos, mas as mãos têm calos e tantas vezes travam a corrente sanguínea-amor.
As setas desvairadas às vezes nascem oblíquas, largas e o freio não funciona.
Na sua ponta tem um objeto que deveria ser
ou
Mas geralmente é e derruba toda a possibilidade para torna-se.

O amor mal direcionado pode virar um machucado
[hematomas como quedas de amores desmedidos e mal avaliados...]

...

Mas o amor é uma correnteza e navegá-lo não é nada fácil.
[matemática para ser vivida, e não resolvida].

... porque as setas são galhos sanguíneos que crescem em mim como galhos de girassol.
o olhar olhando pro sol quase cego,
não sabe bem para onde está indo.
[mas precisa ser espontâneo no processo - condição de bem viver].

...

Se no caminho sanguíneo-amor eu não afogar ninguém eu não me afogo também.
E quem sabe assim cresça até o sol.



14.8.11

viagens

Gogol Bordello diz em uma música mais ou menos assim:

A sua terra natal é o lugar onde você está.


4.8.11

marfim paralisado (e o mar)


Às vezes a paralisia pode nos tomar de assalto de uma maneira irreparável.

Quase sempre inadvertidamente, ela me pega pelos pés.
como o repuxo do mar, arrastando o solo debaixo do meus pés, enterrando-me.

Enterra-me pelos pés.
Ninguém viu meu corpo enterrado, porque ele parece livre.

...

O enterro é ilusão.
Solto facilmente meus pés, a areia nunca pára de mover-se.

... é que é a natureza mover-se, mesmo que não seja na direção do desejo.
[eu só me enterraria se nunca me movesse, mas a areia e a água são fortes porém lentas, e toda vez que olho pro chão e olho pro mar tenho vontade de correr...]

Desejo-megulho.

Fixa olho pro mar, já estou paralisada diante do desejo.
Se a areia me engole, é porque imóvel eu me afundei no aconchego tentador da areia fina, mole como o mergulho.

O desejo e a paralisia andam, assim, de mãos dadas.

me enlaçam em nuvens,
me congelam de olhos fechados na ventania do mar.

........................

Toda vez que venta areia nos olhos olhamos rápido e automaticamente para o outro lado.
tapo os meus olhos, como se o desejo não estivesse mais ali.
o corpo agita-se em ventania,
e rapidamente corremos para o outro lado.


[a tragédia da falta de ilusão é que]
só consigo mergulhar quando o mar já não espera mais por mim.