"No fundo, Resnais nos diz que amar é estar pronto para amar de novo e o amor, a perpétua iminência de seu re-encontro e de sua perda".
* Enéas de Souza, no artigo Do horror à beleza do cinema,
revista Teorema, agosto de 2009.
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fiquei pensando que amar é um gesto assim, algo libertário.
é de fato uma entrega. como um salto.
porque quando estamos prontos para perder, estamos livres.
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"penso que te amo" - dizia o autor, em outro momento.
pensar, e não o sentir.
desejo de sentir.
quantas vezes já não ouvimos falar em "amar o amor"?
ou seja, amar a ideia de estar amando, e não uma pessoa em especial.
...
quantas vezes o amor não é nada além desse encontro, do desejo de uma vontade,
e a pessoa amada, uma coincidência?
viver o amor é o encontro de duas vontades.
...
e se o amor é um encontro,
e é também um jogo,
como se joga com o encontrar?
encontro é por vezes um estado, não um lugar.
e desejo é percurso.
se joga caminhando no desejo, o percurso é limbo.
porque as vontades são frequentemente nebulosas:
[embaçado que muda com os dias]
formada por pequenas vontades menores, que vão e vêm.
formada de enganos e ilusões.
de acertos, erros e de coragem.
caminhar o percurso do desejo é andar em linha fina.
e segurando a vara do equilibrista raramente olho para os lados.
mantendo-se o foco, chega-se a um ponto, não?
mas quando chegar, como saber se era o ponto do desejo,
ou se eu não queria outras linhas, viver numa teia?
[mas qual seria o sentido de viver sem a busca de encontrar?]
bem, talvez chegando deseje voltar.
[não para o lugar de partida, pois não se pode voltar atrás no viver]
mas tornar o quase mesmo percurso em outro.
viver o desejo nebuloso
viver encontro nebuloso.
névoa que clareia aos poucos.
dia que nasce devagar em vários dias.