3.6.10

a busca dos contrários


Disse Gonçalo M. tavares:

- Se um triângulo retângulo tiver saudades do tempo em que era um quadrado e se quiser voltar a ser de novo um quadrado, não deverá juntar-se ao que deseja ser (o quadrado), pois assim nunca ficará como deseja.

[...]

- No fundo - disse o senhor Valery, enquanto fazia outro desenho - devemos juntar-nos, sim, àquilo precisamente que não gostamos de ser, para assim nos conseguirmos trans-formar no que pretendemos.

- Isso é confuso demais, e também um pouco triste - disse, a concluir.

O senhor Valery depois não disse mais nada - já estava cansado e era tarde - porém o último desenho que fez foi o de um quadrado dividido em muitos bocadinhos.

Do mini-conto A tristeza
Gonçalo M. Tavares
O Senhor Valery, ed. Escritos, 2004.

--------------

Intrigou-me um bocadito que o conto se chamasse A Tristeza, apesar mesmo da perspectiva ser um pouco triste.

O livro no geral fala de modos sutis e variados dos contrários, e fiquei a pensar nisso do encontro só poder ser gerado a partir do contrário.

Teria que ir na direção oposta ao que desejo?
Como buscar o desejo sem tentar "ser" o desejo?
Como vivê-lo, na busca?

-----

o senhor Valery gosta de responder e ter soluções.
hoje eu só quero perguntar.


Nenhum comentário: