31.7.08

e ele disse:

"Uma escritora utiliza esta expressão: ficar individual. Uma pessoa que numa conversa, de repente, fica individual, é alguém que entra em si próprio, como se cada um fosse dois e pudesse o seu 2° mergulhar no primeiro e fechar-se."

Gonçalo M. Tavares.

27.7.08

para recuperar o desapercebido.


vou desfocar.
para quando voltar a ver, nitidamente
ver outro [
ter outro olhar]
no mesmo.

exercício para distrair o involuntário.

23.7.08

...

às vezes, muito mais do que dizer o que é
me interessa dizer o que não é.

comentários para perder-se.



então, tudo é uma ridícula questão de ponto de vista.

- nããaao, não é ridículo não... (um fato, com um opressor caráter de concreto, apenas e talvez).
é óbvio.
então, porque o esquecimento tende a girar (e cercar) em torno de todos os outros pontos de vista (principalmente os nossos, que são vários-variáveis) obrigando-nos a considerar a penas um, o nosso, o ÚNICO nosso ponto de vista, totalmente infligido pelo estado de espírito?

defesa, talvez.
ou para não enlouquecermos com múltiplas personalidades.

seja como for, me agrada sair de ponto e ir a outro.
é como se eu estivesse na posição de câmera que olha de cima.
como se eu estivesse na impossibilidade, que dura apenas um segundo, se tanto.

de saber que não única, que sou inúmeras, que uma organização descontrolada age sobre elas.

mas......
me questiono se não temos controle nesse descontrole.

controle inconsciente - interno.
regido uma vontade latente, sem verbo e mais potente do que qualquer racional consciente.

"decido" e vivo coerentemente em relação a isso, mesmo que tenha a ilusão de ter outros desejos.

o absurdo talvez,
é que "outros desejos" denunciem esse desacordo silencioso, entre vontade e ilusão de outra vontade.
estes, convivendo juntos, impossibilitam a saída de ponto a outro, raro ínfimas exceções.

ilusão como arma de ataque ou de defesa?

se de ataque, talvez a melhor defesa seja o esquecimento.
Es- que - c i - m e n - to . . . ..
[não esqueceu, ou esquecido ou esquecerá, ir esquecendo.... o que talvez permita voltar no caminho]


se defesa....
[talvez defesa seja apenas outro tipo de ataque]
vertigem de esquecer-se - perder-se para viver.


17.7.08

...

... para pensar o que há por fora e o que há por dentro do corpo.

vísceras-vestígios.

vestígios estão mais para rastros (partes perdidas) ou apontamentos?

vísceras
sintomas
silêncio
silêncios
escuro e denso
vermelho escarlate.


16.7.08

pelo novo.


Não sei se gosto mais da franqueza ou do choque (sensação de peito aberto) que ela causa.

Uma quase-revelação, quando parte do sentimento de quem fala (o franco).

Uma onda da qual é impossível sair, pra quem recebe (o chocado).

A onda (do mar, essa quase-metáfora) dói mais quando ficamos imóveis.
Será o mesmo para o chocado?


Fico pensando que sim, e que o interessante é que desde modo, o choque é duro e cortante, contraste vivido.

Choque pelo sentimento de estar vivo.

Como ir fumar um cigarro no frio da rua.


Tem também o sentimento de invasão, ser invadido.

Como se me obrigassem a sair de casa.

Para sentir o estranho que está além do pequeno mundo onde vivo, um cercadinho de certezas-ilusões.

Desfazer para refazer. sempre outro.

pelas ilusões renovadas.



fuga para o encontro.


Fuga requer abandono.
para o encontro,
um abandono de si. um auto-esquecimento. um ir-se.

em algum momento atrás, me disseram:
"...mas acho que no abandono percebe-se uma tristeza que sabe-se como caminho a percepção do desencontro com as coisas."

Foi então que me deparei com o desencontro. como única saída para o encontro.
como se fosse necessário abismar-se.
como se depois da queda a gente só se levantasse numa outra posição. auto-encontro.

o fim das ilusões me parece ter um pouco disso, de encontro. perder as certezas. e uma quase-paz.

7.7.08

ensaio para dias nulos.


Mulher devastada.

Perdida nas noites
de luzes e sons ofuscantes.
Cidade particular de ritmo invertido.

Perco a conta dos meus dias, no exercício
de esquecer, tornando-me outra.

Devastada. Sentimento encontrado no fundo do mergulho.

As cores se confundem e se perdem no profundo da noite. e ainda vejo o azul violeta chegando, num movimento silencioso: os olhos caem antes do dia.

...as tardes transcorrem como um dia distante. transeuntes transitando, uma porta fechando. uma mão leva a xícara à boca, um leitor absorto, o sinal que abre e fecha.

Apagamento, diluição.
Olhar com distância para não sentir dor.
a dor dos outros dói menos.

E apenas outros. Não estou aqui, nem em lugar algum.
Assim, perco-me, estou a salvo. Apago progressivamente...
.percorro o limbo, não lugar.
Um dia regresso. ou recomeço.
recomeço-regresso de quem sou.

dias escorrem, esmaecidos.
.........................................................................................
tanto tempo passou. parece que foi ontem, parece que foram-se anos...

Nada acontece. Tudo se sente.