pensar na falta de vontade de fotografar,
como a incompreensão de uma expectativa amorosa,
como dizia Barthes.
algo assim:
quando tento compreender a falta de ânimo para fotografar,
sempre penso em certo trecho de Fragmentos de um
Discurso Amoroso
que falava no desgaste da tentativa de compreender os
sinais.
algo assim:
se não sabemos o que o amado pensa,
no desespero de apreender a qualidade do seu sentimento
às vezes nos pegamos tentando entender
em cada gesto,
em cada palavra,
[inclusive as não ditas]
um significado oculto,
e geralmente muito mais amplo do que poderia vir a ser.
tal exercício é uma demorada sala de espera,
mas não se sai de lá para outro lugar que não seja a
frustração.
[simplesmente não há como saber o que o outro pensa].
...
e assim me pego na espiral de tentar compreender
o significado da ausência de uma ação,
a apatia diante de um gesto que sempre me inquietou.
....................
que importa?
se a insistência para a compreensão denota a abertura de
um vazio,
o que a resposta preencheria?
ainda assim não haveriam imagens
ainda assim existiria a lacuna.
a resposta é um consolo.
e provavelmente viria como uma imagem velada.
....................
como elaborar uma ação contra uma não-ação?
observar, quieta, é estratégia ao revés.
certa de que esquecerei, insisto em algo que por isso
mesmo já não vale mais a pena.
...
como os casos amorosos,
não há facilidade no jogo da compreensão.
vale esperar que o amor venha.
e se este não vier, certamente outro virá.
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