[estranhamento como oportunidade para a novidade, estranhamento para o mergulho em si(m) mesmo].
10.12.11
6.12.11
2.10.11
o deserto silêncio
ou O Deserto Imaginado:
John Lurie, um cara de melodias fantásticas tem duas músicas são propostas para ouvir em sequência:
entre a ação de sequestro [levo embora comigo o meu objeto de desejo] e o sonho vivido, um breve silêncio corta as duas músicas.
um milhão de possibilidades ao atravessar o deserto silencioso.
*John Lurie, ouvir o álbum African Swim and Manny & Lo.
Delírio.
29.9.11
emoção em looping:
Revirar os olhos.
Correr.
Olhar para os lados.
Passar o dia deitado na cama em silêncio. [Chris Burden performance]
Não conseguir se mexer.
Não conseguir parar.
Viver-correr.
Abrir portas [e não ter coragem de fechá-las].
Ir conforme a correnteza.
Vertigem.
Indefinições.
Indecisões.
Ver.
Esquecer-se da impermanência das coisas [das pessoas, das relações, dos interesses, da vida].
Rir compulsivamente.
Chorar compulsivamente.
Certas canções.
Mergulho.
Todas as coisas que me causam a alegria mais franca e ensolarada são também as mais efêmeras [escorrem como água pelos dedos...]
Mas as torneiras estão em todos os lugares, é apenas uma questão de ver.
21.9.11
30.8.11
29.8.11
a matemática e o amor
Tenho muito amor, ele pode ser dividido em muitas partes, assim:
Mas tenho apenas algumas pessoas para quem quero dá-lo, assim:
Às vezes, um estranho rouba o meu olhar:
E tenho vontade de dá-lo tanto amor...
[mas o amor deve ser dado a quem esteja disposto a receber].
Tenho tanto amor e uma pequena cota a quem desejo dá-lo.
Sobra amor e sobram pessoas...
[geografia discrepante]
Com o amor acumulado meu coração soluça e sofre algumas taquicardias...
Está inflado, tenho válvulas trancadas.
Ele não explode, mas às vezes dói
[e soluça baixinho pra ninguém ouvir...]
Onde colocar o amor?
A matemática pode ser usada em setas:
tenho muito amor e várias pessoas,
nem todas podem ou merecem recebê-lo.
conta desviada, seta desviada-desvairada.
A seta desvairada é o amor em fuga de mim,
uma válvula de escape.
Acontece que as válvulas descem do meu coração até as minhas mãos, mas as mãos têm calos e tantas vezes travam a corrente sanguínea-amor.
As setas desvairadas às vezes nascem oblíquas, largas e o freio não funciona.
O amor mal direcionado pode virar um machucado
[hematomas como quedas de amores desmedidos e mal avaliados...]
...
Mas o amor é uma correnteza e navegá-lo não é nada fácil.
[matemática para ser vivida, e não resolvida].
... porque as setas são galhos sanguíneos que crescem em mim como galhos de girassol.
o olhar olhando pro sol quase cego,
não sabe bem para onde está indo.
[mas precisa ser espontâneo no processo - condição de bem viver].
...
Se no caminho sanguíneo-amor eu não afogar ninguém eu não me afogo também.
E quem sabe assim cresça até o sol.
14.8.11
viagens
Gogol Bordello diz em uma música mais ou menos assim:
A sua terra natal é o lugar onde você está.
4.8.11
marfim paralisado (e o mar)
Às vezes a paralisia pode nos tomar de assalto de uma maneira irreparável.
Quase sempre inadvertidamente, ela me pega pelos pés.
como o repuxo do mar, arrastando o solo debaixo do meus pés, enterrando-me.
Enterra-me pelos pés.
Ninguém viu meu corpo enterrado, porque ele parece livre.
...
O enterro é ilusão.
Solto facilmente meus pés, a areia nunca pára de mover-se.
... é que é a natureza mover-se, mesmo que não seja na direção do desejo.
[eu só me enterraria se nunca me movesse, mas a areia e a água são fortes porém lentas, e toda vez que olho pro chão e olho pro mar tenho vontade de correr...]
Desejo-megulho.
Fixa olho pro mar, já estou paralisada diante do desejo.
Se a areia me engole, é porque imóvel eu me afundei no aconchego tentador da areia fina, mole como o mergulho.
O desejo e a paralisia andam, assim, de mãos dadas.
me enlaçam em nuvens,
me congelam de olhos fechados na ventania do mar.
........................
Toda vez que venta areia nos olhos olhamos rápido e automaticamente para o outro lado.
tapo os meus olhos, como se o desejo não estivesse mais ali.
o corpo agita-se em ventania,
e rapidamente corremos para o outro lado.
[a tragédia da falta de ilusão é que]
só consigo mergulhar quando o mar já não espera mais por mim.
3.8.11
Desertos sonoros.
Para Cassandra Geminni VI
De repente me dei conta de que demorei 17 dias para transitar a distância de 3 músicas.
Curiosamente, a travessia foi curta como um passeio.
[é que demorei muito tempo para abandonar Cassandra Geminni III].
Não abandonar a música como o apego a um território antigo em que
a dificuldade de atravessar a fronteira está na vertigem de ouvir,
de sempre escutar o que nos aviva.
Difícil talvez seja constatar que,
depois de cruzar a órbita,
o som vai se perder cada vez mais como memória-vertigem.
...
E o que parecia o único fogo de viver fique flamejando distante,
como a lanterna que ilumina o próximo farol.
Vou buscá-lo em outros albuns.
O mesmo, sempre tão diferente,
mascarado de novidade, amigo antigo.
............................................................................................
anexo:
Isto não poderia ter acontecido em outro lugar (música) diferente de Mars Volta,
que com tantas camadas de som que me leva para diversos lugares.
Viajar no som tem outra velocidade, e com eles minha vertigem é sempre um flâneur.
7.7.11
29.6.11
Instant Karma
Para purificar-se num instante:
Well we all shine on!!!
Like the moon, and the stars, and the sun...
A coisa mais bonita desta música é que John Lennon a canta com tanta força, como se ela fosse proporcional à possibilidade do desejo realizado.
8.6.11
o lugar no não-lugar
[lost in translation 5]
estar entre os seus, estrangeiros, todos eles.
...
o não-lugar como ponto zero.
o não-lugar como espaço de estar. zero como o lugar, olhos abertos, copo esvaziado.
toda a intensidade vivida no não-lugar nos atravessa como a uma holografia.
intenso, vívido, etereo.
permanente depois de vivido.
surreal na pele.
...................
como se situar no não-lugar?
e, se isso soa tão simples e espontâneo, como situar-se aos lugares?
[os de sempre, em que vivemos]
como voltar para o real ludibriado, deixar aquela não-casa para trás?
minha casa é o lugar em que nunca estive. minha casa é viver o lugar como cada não-lugar. estrangeirismos...
ser estrangeiro nada mais é do que olhar de fora. dentro.
o não-lugar é lugar do impossível, de estar em todo canto, de ver enquanto vive cego, o olhar zero a cada dia.
...................
vou estar impossível, e tão real que os dias não vão se dar conta de que me mudei.
30.5.11
18.5.11
o pára-quedista.
O primeiro passo é o salto no escuro.
A queda-livre é curta.
Não reconhecemos o entorno, as sensações se confundem na vertigem.
Aterrizar é chegar é de fato?
O reconhecimento é lento e nublado como a vertigem.
Reconhecemos enquanto agimos, o ato de viver parece incerto como o passo seguinte, enquanto a neblina não se desfaz.
A vantagem de viver na neblina é a novidade a cada passo,
A novidade do que já parecia tão antigo, tão sabido.
Viver na neblina é aprender nas velhas manias, é revisar o viver.
Com o olho novo, quem sabe não reconheço algo que sempre esteve ali, algo que nunca havia percebido.
É cansativo saltar todos os dias...
(então aproveite o salto diferencial!)
Vertigem é deleite.
29.4.11
3.4.11
desejar - esquecer-se
[ou: A loucura da fuga]
a persistência no desejo é possível através da lembrança constante.
lembrar - fixar - não deixar-se esquecer.
lembrar de maneira compulsória não permite a distração.
e qual poderia ser o sentido funcional da distração?
... não a distração como maneira de não enlouquecer na persistência, mas a distração como fuga que se impõe, que nos sequestra do desejo como válvula de...
...escape?
...auto-sabotagem?
para driblar a sabotagem: o eterno retorno.
avanços espirais,
vôos cíclicos e direcionais.
mas ainda: Haveria outra distração dissimulada no meio destas?
desejo-distração.
a distração como lembrança por oposição.
[para lembrar que existem outras coisas no mundo a desejar,
para lembrar do desejo-persistência pela distância, como a chuva faz lembrar o sol].
distração - catatonia necessária.
voltar correndo para o desejo como que para o amante.
correr. correr.
28.3.11
sobrevoar conversas
As conversas são como lugares.
E às vezes simplesmente não desejamos estar neles.
mudar de conversa - mudar de geografia.
às vezes somos vizinhos [linhas paralelas]:
conversam conosco como se estivéssemos ali,
mas já fugimos para casa
[ali do lado - nem perceberam].
às vezes somos paraquedistas:
caímos sem querer, sonhamos com o resgate.
às vezes sou ilusionista:
acham que ainda estou ali, e meu holograma de fato está.
enquanto converso, viajo para outros mil lugares.
...
sobrevoar conversas:
sons indistintos chegam nas alturas
capto o que o acaso faz interessar,
engano o outro como quem presta uma gentileza.
13.3.11
a vontade e o olhar.
Mal vale a pena ver, sem querer ouvir-perceber.
Breton bem sabia do acaso: jogar-se é como ter os olhos muito abertos.
Mas nem desejo ver tanto,
apenas vontade de ser alguém sem guarda-chuva.**
*André Breton, Nadja, ed. cosac naify, 2007
**Enrique Vila-Matas, A Viagem Vertical, ed. cosac naify, 2004
10.3.11
descompostura.
disse a ele: [...] e que o caminho da arte era o da impostura , que a única fonte do belo era a ação, e que a arte na verdade era somente uma maneira de fazer, e não uma forma de pensar. O importante era a ação. Todo o resto tinha algo de doentio.*
[...]
Estranhamente, sou uma artista quando tudo começa na "forma de pensar".
sou artista desde a origem do pensamento.
Por outro lado, pensar é como vivenciar sozinho e não falar:
O ato de expressar verbalmente [e em outros lugares] dá vida ao pensamento e a certos acontecimentos.
Não falar é como se nada tivesse acontecido.
Se eu levar o meu pensamento para tudo o que fizer, ele estará impresso inclusive nas formas.
Isto é tudo o que importa, como uma alavanca de ação.
*Enrique Vila-Matas
A Viagem Vertical, ed. Cosac Naify, 2004.
8.3.11
geografia íntima.
Enrique Vila-Matas
A Viagem Vertical, ed. Cosac Naify, 2004.
25.2.11
peixes abissais em ondas sonoras.
Às vezes tenho certeza de que gosto mais dos sons graves pela qualidade algo grave dos sons densos.
Sons agudos são ligeiros e doloridos, nos tocam em superfície ou em brevidade.
Os sons graves são rebeldes em sono profundo.
Possuem o caminhar pesado, e a gravidade das palavras não ditas.
Sons graves confundem-se com mais facilidade.
E toda vez que me perco no som estou no mar.
Quero ser peixe abissal, perder-me em profundezas.
Quero que uma pequena luz me guie em mundo infinito.
Os sons graves me confortam, estou na cama.
Dormir em ondas, viver anos sem encontrar os outros.
Afundar-se, encontrar-se.
Só consigo falar nas profundezas, sons indistintos chegam à superfície.
som e memória - espirais.
Que algumas músicas nos evocam outro tempo, alguma nostalgia, todos sabemos.
Mas ainda assim me impressiona que alguns detalhes sutis nos evoquem coisas muito específicas.
E que muitas delas talvez não façam o menor sentido,
que sejam tão particulares.
Os acordes situados entre 0'48" e 1'01" são, para mim, o grunge em essência.
Não importa que os acordes não façam sentido, ou que nunca tenham estado presentes qualquer canção deste estilo (improvável).
O sentimento que aflora toda vez que escuto estes acordes resume todo o meu amor pelo grunge.
É o mesmo sentimento que sinto ao escutar diversas músicas e bandas do início dos anos 90.
Música é sentimento, não precisa e nem deve fazer o menor sentido.
* Comedown, Bush. Do primeiro album, Sixteen Stone.
Esta banda surgiu já durante a ressaca grunge, e foi ridiculamente taxada como uma tentativa sucessão ao Nirvana. Acredito que o som da banda confirma que o grunge já estava indo embora, e nela noto não mais do que uma forte influência. Uma boa influência.
16.2.11
o sentido dos frames
ou: o colecionador.
Há algum tempo (hoje parece um tempo consideravelmente distante), tinha o hábito de capturar frames de filmes que gostava. Foi mais ou menos na época em que eu estudava fotografia, e estava um pouco em "crise", num hiato criativo.
...
Como estava enfadada com o meu olhar, acabei resolvendo deixar a fotografia de lado por um tempo, e distrai o meu olhar com o cinema.
O hábito de colecionar frames chegou quase sem aviso, como um passatempo, mas adquiriu regularidade em ocasionais impulsos que eu não conseguia conter. Foi só depois de algum tempo que percebi, para além das noções estéticas, que existia algum elo sutil entre as imagens que capturava, e que isto revelava uma profunda relação com a fotografia (em termos de gostos pessoais) e, por consequencia, com a fotógrafa e artista que eu era em essência.
Percebi que não só o mise-en-scene me encantava pelas possibilidades narrativas, como também uma ideia de sequestro da imagem, como uma noção de que a imagem nunca está completa, pois pertence a um momento não inteiramente conhecido.
Em outras palavras: me fascina até hoje em em diferentes ocasiões a ideia de non-sense e, neste caso, se aplica a uma imagem que possui uma história, supostamente. A imagem não é plausível por si só, e me agrada a presença da frustração que ocorre por não conseguirmos desvendá-la.
...
Hoje vi o filme The Good Heart, que recomendo muito.
Não bastassem as atuações e a fotografia fantástica, o roteiro é um deleite, e o diretor revela um talento fascinante em algumas "tiradas" verdadeiramente surreais, em diversos níveis.
Então, como uma homenagem a este filme lindo e minha saudade de fotografar (vivo em outro hiato neste momento) recolhi alguns frames, que eu compartilho aqui:
obs: devo observar que a minha rápida pesquisa só permitiu recolher frames da web e de trailers, mas o filme apresenta outros momentos especiais para coleção.
obs2: é estarrecedor perceber como os personagens se encaixam algumas situações simbolicamente reveladoras. Há vários subtextos especiais, que complementam ou dissolvem as imagens... mas a crítica fica pra outra hora =)
* O Bom Coração (The Good Heart), de Dagur Kári:
http://www.imdb.com/title/tt0808285/
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