22.2.10

ao revés - pedem que eu diga quem eu sou


em certo conto de Enrique Vila-Matas, ele fala do revés. Sob alguns aspectos curiosos..
o mais intrigante talvez, ocorra quando um personagem constata que agride outro e no entanto não quer que ele se vá, não quer ficar sozinho.
acaba criando a cruel estratégia de agredir provocando, e o outro, curioso e perplexo, vai ficando.

algumas pessoas não demoram tanto para ir.

quantas vezes agredimos quando, se a gente parasse pra pensar, talvez fizesse exatamente o oposto?
se isso é sintoma de alguma causa que o outro nos inflige/ atiça, como saber?

como entender o sintoma das reações quando elas são um total disparate para com o sentimento?
essas reações, vale sinalizar, tendem a ser as mais instintivas.
o lado boçal do sentimento.

viro o rosto contra aquilo que não sei lidar.

as reações instintivas, tragicamente, têm a esperteza da rapidez.
não permitem que as forcem a agir de outra maneira.

como, então, ensinar ao deselegante instinto a agir de outra maneira?
e como ensinar a sensibilidade, ensinar sem pragmática?

estamos na linha estreita da sensibilidade e o auto-controle manipulador
[a saber: quase sempre ilusório, diversas vezes corrosivo].
a alegria de agir de acordo com o sentimento, contra a onda selvagem do instinto, é um encontro.

existe fórmula para este encontro?
o encontro não é linha, é acontecimento.
no entanto, se os acontecimentos ocorrem a partir do desejo, existe uma porta aberta.

...vou perseguindo a luz no fundo da penumbra difusa.
e assim vou encontrando o caminho que às vezes se perde, outras vezes se encontra, e outras vezes ainda, se transforma.
de qualquer forma, já disseram:
não encontramos nada que não estejamos perseguindo.
e outros disseram: o que importa é a busca.

acredito no que quero acreditar, viver é ilusão bem articulada.

reflexões extraídas a partir da leitura do conto
Pedem que eu diga quem eu sou,
de Enrique Vila-Matas
Suicídios Exemplares, Cosac Naify, 2009.

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