21.2.10

Vila-Matas - As Noites da Iris Negra


"Logo ao chegar em Port del Vent tive a obscura sensação de que vir para esse lugar significava abraçar uma certa ordem, integrar-se, aceitar alguma coisa como a delegação de uma continuidade, como se chegar ali implicasse que não pode ser indigno de quem antes aqui esteve. Tem que ser como eles. Agora (parece nos dizer o povoado) parece ser a sua vez."

Enrique Vila-Matas
trecho de As Noites da Íris Negra.
Suicídios Exemplares, Cosac Naify, 2009.

...às vezes as metáforas ao acaso são impressionantes.
e as submetáforas têm sentidos dispersos.

entrar na dispersão para fazer sentido.
a dispersão também é ensaio. algo como estar inconsciente no meio, estar flutuante, esquecer-se.

só depois de esquecer é que é possível lembrar.
lembrar como movimento de rasgar os papéis,
[os rascunhos nunca são descartados: vão para outro lugar].
reescrever com tudo o que se escreveu antes na cabeça e nos olhos,
reescrever em papel cinza.

na ausência de linhas de controle, crio linhas desenhadas a sangue frio,
linhas que se confundem com que é escrito,
escritos que se confundem com o desenho [também linha] impresso a fogo nos papéis.
linhas profundas e rápidas,
deixam poucos vestígios porque olham para frente.
o sangue frio não é derramado,
é azul e está no fundo dos olhos.
é também estranhamente ligado ao passado.

Quando paro, começo a caminhar mais firmemente.


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