21.12.09

viajar, perder países.

[deveria ser uma homenagem à Fernado Pessoa,
mas é antes ao Enrique Vila-Matas]


as estradas que correm são as mais agradáveis.
mudam de rosto o tempo todo.

e são as mesmas.
me lembram que correr é encontrar o novo.
correr para o foco,
diafragma cantante fechado de ar.

até o ponto do desparecimento.
para dentro
encontrar-se.

viajar, perder países.
perder-me dentro do meu próprio mapa.

fechar os olhos é apagar-se.

9.12.09

correr

nunca deixei tanto para trás, andando tão calmamente.
[como se me abandonassem na espera calma de que eu vá voltar].

COMO RECONQUISTAR OS DESEJOS ABANDONADOS?

nem está na hora do abandono, e já sinto o pesar da distância.

[e escrever é a grande ilusão.]


há diversas vontades flutuantes, embaçadas no sereno.
todas são a mesma vontade.
o meu apêndice silencioso que morro de medo de arrancar.

flutuam na estranheza de vê-las um tanto distantes,
sem deixar uma saudade doída.


não há conquista sem pesar, não há renascimento sem morte, uns diriam.
mas todos dizem.
as vozes altas demais sempre abafaram meus ruídos.
e não se pode tapar os ouvidos como quem fecha os olhos.
entretanto, posso ser cega como eu quiser.

[o grande truque da ilusão.]

é assim que minha parte mais prezada vai dormir.
se minha força sempre foi minha fraqueza,
veremos como ela irá acordar.
o leão que desintegra-se em poeira, ocupa todo o ar.

Desejo pétalas.
e que o som silencioso do sono irrompa a imensidão do fundo do meu olhar.

2.12.09

dormir e acordar

o que escrever já não é tão importante quanto escrever.
escreverei linhas todos os dias, ser todo e todo
em linhas que perdurarão até que o último ponto seja pesado demais para arrastar a linha
que cai em queda suavemente
tempestiva pelo ar.

pelos ouvidos.
pela cegueira da brancura do papel.

o vídeo como admirador fixo.
sempre esquece que não dá conta do escrever,
lembra todos os dias que mal sai do lugar.
[não sai do lugar porque se esquece de esquecer-se].

em compesação, a noite é escura demais e as nuvens passam muito depressa.

25.11.09

cortar os fios.


Tenho fios.


Linhas discretas presas em lugares diversos.

Densidades e amores e desamores diversos.

... desejos, vontades, manias, princípios

distâncias, resistências.




Ando correndo, e alguns estão arrebentando.

4.11.09

sombra tempo projetado


Esses dias vi o passado.

Continuei no mesmo caminho, fingindo não ter visto.
Se ele também me visse, simplesmente não saberia o que fazer.

A indiferença pode ser a paralisia do muito sentir.

E algumas coisas são mais vivas quando permanecem apenas na memória.

Como essa estratégia-ilusão:
Eu lembro só o que quiser.
E se ainda assim não conseguir fazer uma seleção bonita,
bem, meu bem, nenhuma realidade me dirá que estou enganada.


No fim, foi só uma reminiscência.
Pensei nos tantos anos que já passaram, nas tantas que já fui.

às vezes, o mundo dá voltas tão sutis,
que uma vida inteira se revela num olhar ignorado.

afundar /adentrar

Não existe aprofundamento sem abandono.

Fechar os olhos, ignorar o redor.
Mirando em frente, ao som de
just a perfect day.

Mergulho-abandono.

A flecha mal tem tempo de se despedir do arco.
O fio do arco que ela mal conhece, apesar de do toque, apesar do impulso.


Não se pode ter medo dos desejos,
menos ainda duvidá-los.
há apenas que desejar conhecê-los.
como o amor novo, aquele que mesmo conhecido eternamente se revela.

I was a stranger, and I'm a stranger to me yet.

22.10.09

olhar zero

nunca existe, mas sempre uma tentativa.

Tenho me sentido como uma criança.
Nada pueril, mas alguém que está no mundo muito jovem.

entrando, agora.


definitivamente, nos últimos meses, algo se perdeu
[algo que queria muito perder].

não sei para onde foi.
às vezes penso receosa que está em minha mãe.
às vezes fantasio que o que está perdido escondeu-se de mim.

virá agarrar meus pés à noite.
tomará conta do meu corpo aos olhos dos outros mais rápido do que poderei me dar conta.
[a saber: sempre foi assim, por isso talvez a paralisia me assaltava]


são só temores ligeiros. sonhos do qual sempre desperto.
rapidamente e sem susto.

curiosamente, a calma presente no fundo dos meus olhos combina com o estado infância que tem se mostrado sob o sol dos meus dias recentes.


me sinto diante do mar, do horizonte infinito-indefinido.
pronta para me perder.
com a clareza absurda de quem está muito bem onde está.

28.9.09

olhar ao alto


algumas certezas são como um cilindro bem fino, comprido,

com a base minimamente mais larga e feitos de vidro.

olham o alto e são brilhantes,
mas tremem a qualquer toque.

22.9.09

imagem-nada







........................................

Tudo depende do contexto.


a imagem fora de contexto,
outro contexto, outra dinâmica.
estaria a funcionar de outra forma?

como se dá a ver a imagem-nada descontextualizada?



ser nada no contexto original,
vira potência para todos os outros.

20.9.09

Ao rio turvo:


o que existe não existe ao mesmo tempo,
jaz guardado no profundo distante.

Curiosamente é quando lembramos que o esquecido se torna presente, e ao mesmo tempo, turvo.

a memória é algo turvo.
em permenente processo de distorção.

lembro turvamente, e clareando,
ou turvando,
logo vira outro.

o mesmo, mas outro.

então um fato pode ser milhares.
na minha lembrança ou na dos outros - ao mesmo tempo, quase.
na minha lembrança - ao longo dos anos, ou quem sabe mesmo dos minutos.

e quando lembrado, parece um oásis:
tão perto,
quase táctil.

para logo embaçar diante da seguinte pergunta:
era aquilo mesmo?

lembrei de tudo?
?

lembrar de tudo é um sonho no topo da montanha mais alta.
todos sabem o quanto é improvável
e mesmo assim não desistem de tentar.

curisosamente, há tantos caminhos para se chegar lá...

o que levamos nesse caminho?

e talvez, mais importante:
o que perdemos pelo caminho?


às vezes, quando o tocamos [o vestígio da memória] é que nos damos conta do quanto distante estamos do resgaste da origem da lembrança.

como o movimento:
esquecido - lembrar - esquecer.
ou:
esquecer - lembrar - esmiuçar - aniquilar.

.......................................

o rio turvo também é espiral.
levando tudo embora,
quebrando em pequenas partes para engolir o monte indissociável,
arrasta as memórias para o horizonte do mar.

bem à vista, mas inalcançável.

14.9.09

para afogar um amor no rio

aos poucos, uma sentença por vez:

ou: um enterro para a novidade no amor.

[as frases que faltavam,
e muitas outras permanecerão faltando]



- dissonância

- rios paralelos, não se encontram

- os dias em fim

- os dias sem fim

- correr e não chegar

- correr e para sempre correr

- no outro vive o encontro

- desapontar direções

- viver desarticulações

- o que esquecemos de propósito

- esquecer de lembrar

- a memória é onda

- olhar na direção indesejada

- esquecer de desejar a direção

- correspondências extraviadas

- vontades extraviadas

- a vontade é onda

- o fim do deserto


em Red Apple Falls, Smog ainda diz: it's hard...to live...

13.9.09

da sinceridade nos sonhos.


Você é sincero nos seus sonhos?

(escrito por Jenny Holzer, em uma de suas obras).

talvez esta seja a pergunta mais importante que já ouvi.


Como saber?

Como viver algo que se acredita, uma ilusão criada
[a ilusão que é como uma escada: necessária para subir]

e saber que não são ilusões-enganos?
falsos, não-sinceros.

a persistência não permite questionamentos.

"nunca olhar para trás" seria um indício da sinceridade?

a naturalidade do caminhar não me parece uma resposta.
nem precisa, muito menos justa.
apropriada, mas nem sempre evidente.

seja no turbilhão, ou no denso e tranquilo nevoeiro,
parece-me que a força para uma direção é a resposta.

uma lógica:
a persistência é sempre móvel
[o perigo é que ás vezes é uma criança teimosa].

a força é densa, móvel e imóvel
[essa que possui a sabedoria do tempo].

...
no nevoeiro, frequentemente sinto
uma força densa, branca e condutora.

tão branca que geralmente cega.
[a cegueira se dá apenas na visão?]

o claro e o escuro são muitas vezes irmãos iguais.

então, talvez, fechar os olhos e respirar fundo.
seja o único modo de enxergar.

anos depois, descobrirei o que é sincero.

ironicamente acredito que,
se não for sincero.
perceberei muito mais cedo.

...
uma vez, me disseram:
"se você não se lembra dos seus sonhos,
é porque está fugindo deles."

desde então, lembro às vezes.

7.9.09

afogar - afundar


O afogamento como estratégia de sublimação.


porque não enterrar?
não sujarei os dedos, não cavarei nem um centímetro.

amarrarei pequenas pedras nos desejos frustrados.
nos insucessos.

um dia, quem sabe,
venham a se desamarrar sozinhos
para emergir no lago que já foi há muito abandonado.

a estratégia tem a seguinte metodologia:
Pequenas ações delicadas para a indiferença.

a indiferença, como toda boa não-ação
guarda crueldade desde a raiz.

1.9.09

para uma revolução-resolução no espaço-tempo

curto e tão longo.

construir a compreensão juntando as partes fluídas.

evidências que emergem no tempo.

transcorrer...

as peças têm pontas diversas, se encaixam de variadas formas.

viver o entendimento, sem o tempo,
pode ser a única forma de entender.

31.8.09

1ª resposta.





1ª e 2ª páginas de
Samuel Beckett
Novelas e Textos para Nada
Assírio e Alvim
Lisboa, 2006.

pequena literatura.


[na narrativa, é fácil perder-se do experimentalismo]


entristeço-me vagarosamente

distanciando-me dos dias
em que aprendi a alegria,
como algo simples de engendrar.

[descer o poço escuro sem voltar atrás,
prefiro caminhar a ser alice]


o que esqueço repetidamente que aprendi,
foi sobre a impermanência.

sente e espere

olhando o dia passar

com o céu rasgado em laranja-luz
lembro da errância dos dias.

espero contemplativamente.

fico plena mesmo
quando o pensamento se perde.

25.8.09

lost in translation 2


A memória é como a tradução.


pode boiar no lago
[às vezes, ao alcance das mãos]

mas perde-se facilmente no limbo.

só que, diferente,
não se recupera.

errância que dá voltas.

21.8.09

Things That Might Have Been

Estou no deserto
de paredes brancas e sol distante
analgésicos...

aqui os dias são mais os mesmos do que em qualquer outro lugar.

a noite mais azul.
o silêncio se alterna com as crises.

deserto sinuoso.

o deserto é ilha.

as terras avistadas são sempre distantes,
o olhar não sabe medir.
mal sabe esperar.

o problema das fotografias é que elas não são impressionistas.
não entendem a sutileza do tempo.
a falta de mudança de todos estes dias
sempre os mesmos, espirais.

um dia inteiro na poeira dos grãos grossos e densos.
enterro-me. como se me escondesse.

posso ver o raio mais intenso mesmo com os olhos fechados.
cada partícula é em mim uma palavra.
nossas temperaturas, as mesmas.

confundo-me com o som silencioso do deserto.
percorrendo as grandes distâncias,
som profundo nos tímpanos, surdo, indistinto.

para desaparecer só é preciso o desejo.
"não importa para onde vamos,
contanto que sem cautela".

16.8.09

o ato do desaparecimento:


Estou debaixo da chuva intensa.


mas apenas pelo tempo de me colocar no meio da rua,
e deixar-me encharcar por dentro.

Só depois de sentir as gostas mergulharem em cada poro,

que eu poderei olhar bem para a frente,

e desaparecer como a chuva forte de verão.

Apenas o asfalto testemunha a ausência.

sou todos os resquícios, as gotas em todos os lugares. vejo tudo claramente como o sol que chegará daqui a horas.

como a noite, vou obscurecer-me.

e como o sol da manhã, volto timidamente.

vai parecer que nunca fui embora.


todos os dias são sempre os mesmos.
e tão diferentes.

9.8.09

desaparecer - aparecer

[into the wild]

Dizia algo assim:

[sobre quando ele desapareceu]:

a sua ausência há tanto a dizer.

e estava dizendo.
de outra forma seria impossível.

só pela ausência.

a ausência diz de forma tão completa, que é impossível não ficar fascinada.

lembrei de um outro momento, onde contavam:
e agora, ela fará o seu ato principal:
o desaparecimento.

já falei tanto da poeira.
mas quase sempre esqueço de dizer,
que ela é constituída por milhares de palavras.
as letras tão miúdas,
que só fazem sentido pela experiência.

eu agarro os grãos que o vento permite,
que a minha persistência permite,

e monto-os intuitivamente,
com a força do desejo quase insano, algo irracional de entender,
ou mesmo com a calma serena, não importa, há força nos punhos.

... que o sentido surge quase que inesperadamente.
conquista turva.

não importa entender, importa viver.

8.8.09

da frieza e nulidade cruel das estatísticas.


1 entre cada 1000 pessoas ficam doentes por problemas de expressão.

............................................................

1. Da qualidade das estatísticas:

em geral, percebo uma característica da ordem do irritante presente nas estatísticas, terrivelmente aparente para a maioria das pessoas.

talvez isto resida no fato de que entendemos as estatísticas como um parâmentro. e consequêntemente, algo que deveria nos trazer um mínimo de segurança.

por outro lado, informações inevitáveis.

O inevitável, é já concluído, estamos atrasados.

... já nem pretendo entrar na questão do informante das estatísticas, já que o que importa mesmo é pensar nos receptores.
Se aceitamos, já não somos informantes também?

contradição intrigantemente aceita.
daí, talvez, o problema das estatísticas:

-------------------

2. Uma estatística é algo sem profundidade.

Um muro com a inscrição do inevitável.

Um muro semi-transparente, que não permite reconhecer o mundo inteiro que está por trás.
Apenas um vislumbre embaçado.

Como ter envolvimento sem profundidade?

--------------------

3. As estatísticas são impessoais.

Deveriam me dizer algo.

Mas mesmo quando me identifico,
[estou presente ali, dentro]
nada me diz.

--------------------

Talvez o mérito das estatístícas seja apenas este, um botão.

O aborrecimento como alavanca para ação.

Experimentar a partir do que não entendo.


1 entre cada 1000 pessoas.




...subverter a estatística com uma mensagem incompleta.


7.8.09

da novidade do olhar, da experiência.



Porque às vezes nos sensibilizamos com obras que não entendemos?

Esta frase, um tanto banal na verdade, mas também pouco observada e essencial, caiu no meu colo em palestra recente. Estava num contexto mais ou menos esse [esta pergunta]:

a experiência é a fonte do sensível?

Voltando à pergunta lá em cima, admito que fiquei perplexa.
Pareceu absurdo nunca ter refletido com cuidado sobre algo que ocorre com uma frequência no mínimo considerável.

............................................

Mas gosto muito dos giros e da secreta afinidade das coisas que estamos vivenciando.

[... apesar da perplexidade, não senti necessidade de me responder rapidamente.
Foi como se já soubesse que iria encontrar a resposta sem uma busca agitada e cega.]

Então, com a simplicidade de quem mantém os olhos abertos, encontrei a resposta nas palavras de Luciano Fabro:

"Temos que distinguir a impressão da experiência; a impressão é um fato transitório, dificilmente controlável, que pode modificar qualquer coisa em nossa bagagem psicológica, ao gerar um choque. A experiência não é apenas ver, mas sentir, tocar, ser capaz de reconstruir, etc. A experiência é precisamente este tomar posse."

Luciano Fabro, em Discursos.
Escritos de Artistas anos 60/70, ed. Jorge Zahar.
__________

Tomar posse é algo bastante pessoal, certamente.

O que gera uma compreensão pessoal, quando tornamos algo importante em um nível íntimo.
Já não é uma questão de compreender algo no contexto do mundo.
O universo pessoal cria o sentido, e ele é completamente suficiente.

É assim que uma obra torna-se milhares ao mesmo tempo.
[ 1 - 1000 ].

____________

Ou, desta forma:

Eu não preciso entender, somente viver:

"Como o prazer de caminhar: é tudo, uma percepção da coisa, não é um fato sensual ou sensível, é uma experiência global que deriva de não deixarmos que nenhum destes momentos de vida se perca. Pela mesma razão, podemos gostar da dor, não de modo masoquista, mas porque podemos perceber o seu modo de ser. Há uma diferença entre o sentir e o tomar posse, que é justamente o viver."

..........................................

Antes disso, ele dizia:

"Nós nos colocamos sempre em atitude estética diante de alguma coisa quando não somos obrigados a ter uma atitude instrumental."

Pensei na espontaneidade que às vezes só se encontra no viver.
E também na quantidade de vezes que vamos a museus ou o que for, nos esquecendo exatamente disso.

................................................................................................................

Como manter a ingenuidade do olhar?




25.7.09

deslocamento:


pensando no dia 28, dou um pulo por dia.




...gosto de pensar nos novos sentidos,
que só surgem no movimento.


quase sem contrução. ou,
uma vaga construção, permitida apenas por se enguer em algo desmanchado.

algo ruínas.

9.7.09

há um sentimentalismo muito forte em todas as não-ações.


Uma força centrada, que termina no estômago.


onde começa?
uma invasão e a pele aberta, os poros alargados, alertas.
irracionalmente alertas.

um copo d'agua nebulososo.
basta tomá-lo para que a falta de discernimento comece.

o vapor sobe para a cabeça. torna a vista embaçada.
ferve os nervos, congela os atos.


como voltar ao ponto anterior? como fechar os olhos e ficar perceptivamente quieto, fazendo da não-ação uma estratégia?

será que depois de fechar os olhos, se abrirá um novo mundo ao meu olhar?

posso obscurecer turvamente tudo o que existe à volta.
como se pintasse a tela com solvente.

da tela plana, olharei na direção oposta.
aí sim, um novo mundo.

na verdade o mesmo, para o qual nunca havia olhado.

1.7.09

Lounge Act


Reaver uma música bem guardada.
curiosamente, fala do cheiro, e de experimentar...

makes me feel...

a mesma emoção, completamente diferente.

----------------------

outra coisa interessante, é rearranjar o sentido,
brincar com o ritmo e as palavras.
em favor de um sentido completamente novo,
totalmente emocional.

Experience anything you need
Wanted more than I could steal

algo que posso fazer com todas as imagens, todos os repertórios, todos os dias nulos, todas as poeiras, todos os arrependimentos, todas as cores dos dias mais cinzentos e do mais coloridos, todas as palavras espanadas, as não ditas, todos os papéis rabiscados de ilusões, todos os desejos, todos os encontros...

emoção em looping.

28.6.09

tempos longos.


-- o sentimental transforma um dia em meses.


dia vertiginoso.
intenso e concentrado como o furacão que gira no mesmo lugar.
concentrado no ponto.

em transe.


meu coração como uma flecha.

meu furacão não leva nada. deixa os papéis espalhados pela mobília.
todas as mobílias do meu universo possuem papéis espalhados.
pequenos pedaços de papel que eu junto gentilmente, pouco a pouco.
na expectativa que o tempo diluído me traga tudo de volta.
mas não pelo coração.

pelo olhar.
pelo tato.
meus dedos absorvem gentilmente, guiados pelo olhar.

os olhos muito vivos. extasiados.

22.6.09

Tristezas resolvidas.

de que ordem poderiam ser?
[um termo achado gritando no meio de outros tantos, a pensar:]

Não consegui não pensar na tristeza como algo bastante pessoal.
as minhas são minhas dores, amarguras, memórias...
talvez até alegrias.

não resolvidas. não as tristezas.
mas se resolvidas, uma conformidade?

às vezes as músicas deprimidas são as que mais alegram.

Como olhar uma paisagem cinzenta sentindo-se ensolarado por dentro.

8.6.09

landscapes - landsongs


Tenho pensando nos desertos.

Nem tanto a aridez, mas a longa paisagem.

E nas canções desertas.
Things That Might Have Been para os desertos de
Win Wenders.

Go With the Flow para entregar-me à viagem.

Viagem dentro.

Dentro do deserto me perco e e espiralo no redemoinho de horizontes ...................................
iguais e infinitos
iguais e os mesmos tão diferentes.

É com pulsar que olho cada horizonte.
O salto do olhar em cada nota.

30.5.09

notas, corpo musical.

linhas emocionais
preenchidas de melodramas, mesmo pequeninos dramas.

os dramas elaborados, as emoções entusiásticas.

preenchê-las.

... lll....l.. ... l..........ll.. .ll . . . . .......ll . .. ..
. lll.. . . ...................lllll. . . . . . . . . . . .. .
././././././././././././....................... .. . . . ...

notas puramente emocionais. preenchidas com o corpo.

21.5.09

De uma dispersão.


não se trata mais de criar certezas.

mas de questioná-las, repetidamente.

de modo que os planos viram questões de múltipla escolha.

Disse certa vez: enganar-se como estratégia para viver.

Mas percebe de assalto, emborcada num perigo mais grave:
[que assalta a consciência de repente, mas corroi pelas beiradas]

desenganar-se como estratégia para não viver.

estratégia perversa.
uma erva daninha, que brota inesperadamente.

crescendo sem consentimento, vizinho indesejável.

se sou planta, nada faço.
se faço, tenho de expulsar logo.


Como os desejos viram ácido no estômago?


às vezes parece que o ácido cresce no lar sem sol.
num pote tampado. mofado.


Só que os raios, como boas setas, direcionam e dispersam.

...............

Talvez, toda a questão, se resuma à qualidade das pausas.

11.5.09

para o novo, reencontro.


quem sabe uma outra fórmula:


não correr, nada de fuga.
ao encontro, ao encontro, ao encontro.

viver do intensamente vivo e radiante até a amarga dor.
sem pressa, quase sem ir.

entrar cada vez mais profundamente para dentro.


não que a outra fómula não tenha funcionado,
mas são outros encontros.

7.5.09













uma proposta: dar sentido a uma imagem.

não um sentido atribuído. antes, um sentido resgatado.
resgatar a percepção, limpar a neblina do pensamento.

5.5.09

da crise.

Tenho um coração na garganta.

que pulsa e cresce, enquanto recuso-me a falar.

Se eu abrir a boca
(gesto de permissividade para o corpo, não iniciativa)
se eu somente abrir a boca,

Uma frase interminável irradiará.

uma questão:
de tanto controlar, o controle pode simplesmente esquivar-se.
esvair-se de cansado, ou mesmo doente.

27.4.09

do vazio / cheio das palavras.


Recebi palavras.

Deveriam significar tudo, mas não.

Primeiro, me pareceram vazias

como as palavras que dizemos por falar.
seja por mal perceber que as dizemos,
seja por achar que devemos dizê-las.

Era como ME pareciam.

Então larguei-me por um instante,

Foi assim que acabei percebendo:
somos dois. o que ele diz, o que eu escuto.

as palavras poderiam ser vazias pra mim, mas não para ele.
as palavras poderiam ser vazias para ambos.
poderiam significar para mim, mas não para ele
[significar o quê? outra árvore se tece].
poderiam siginificar...
poderiam significar uma coisa [e várias] para mim,
e para ele outras [e várias].

estou numa ventania, vários fios esbarram em mim.
posso sentir nos dedos.

16.4.09

Sobre o extremo, uma resposta:

para Maya:

Primeiro pensei que o limbo, diferente do extremo, ficava no meio.

Agora penso: se depois do extremo fico sem lugar
(o extremo me parece à beira, à ponta), onde fico?
Posso viver a vagar, como no limbo.


Onde fica o extremo, se depois de me afastar, fico a perder-me (sem ter retornado) em algum lugar do meio?

30.3.09

O nó das coisas.


"Encontrei ali o texto
O nó das coisas e uma frase me chamou atenção. Dizia que não tínhamos medo de morrer, mas sim de perder o laço com as coisas pelas quais tínhamos afeto."
(em algum lugar, num site. sobre o livro: Antoine de Saint-Exupery por ele mesmo)

pensei na angústia de ver um sentimento morrer.
e ficar olhando-o derramar-se, sendo absorvido pelo chão sem retorno.

às vezes, esse tipo de angústia é paralisante.
outras vezes, o desejo viver (o sentimento) e tão mais forte,
que aparentemente não fazemos nada a respeito.


não fazer nada pode ser a total diferença.

23.3.09

In Limbo

(para Radiohead)

Ruídos horizontais e verticais. E outros à beira do invisível.
Uns caminham tranquilamente. Outros cortam. Finos, curtos e densos.

Combinam-se.

O corte é
repentino,
abre a fenda,
chama para a profundidade.
mas não agride.

tenho a voz que perdura pela eternidade dos meus ouvidos.
A onda não pára de se propagar,
volta e reafirma.

Entra na ferida.
a voz revela outros estados, no mesmo.

O limbo tem a calma de um mundo sem limites precisos,
a calma do que vai até aonde a vista alcança.

mas também é o espiralado redemoinho onde nos perdemos...
tranquilamente, entregues.

9.3.09

outra reflexão, do vazio.


Ele também pensou no vazio:

"E isso porque o vazio sempre foi minha preocupação constante; e eu considero que, no coração do vazio, assim como no coração do homem, as chamas ardem."
Yves klein - Chelsea Hotel Manifesto, 1961.

e ele falou muito do imaterial e algumas vezes do espaço.
e do espaço vazio.

o que me levou a pensar que o vazio é ocupado por muitas coisas, diversas.
[em diversos espaços e em diversas temporalidades].

pra mim, a questão mais interessante,
muito além de ocupar o vazio
é, num vazio já ocupado, distinguí-lo.

exercício de regular o foco.

mas me parece que, toda vez que se regula o foco,
diversas presenças são acobertadas de neblina.

assim, regular o foco é como regular a presença,
ao tornar algo mais perceptível, uma escolha.

me interessa ainda mais o que é deixado na neblina.

6.3.09

encontro sem sair do lugar:


"Descobrirão, a partir das coisas ordinárias, o sentido de ser ordinário. [...] No entanto, a partir do nada, vão inventar o extraordinário e então talvez também inventem o nada."
Allan Kaprow - texto: O legado de Jackson Pollock.

O encontro também pode ser uma descoberta,
um novo olhar.


s/ título


"A própria concepção habitual do quadro deve ser abandonada; o espaço-superfície só interessa ao processo auto-analitico como 'espaço de liberdade'.
E também não deve preocupar-nos a coerência estilística, pois nossa única preocupação possível é a pesquisa contínua, a contínua auto-análise, com a qual, apenas, podemos chegar a fundar morfemas 'reconhecíveis' por todos os âmbitos de nossa civilização."
Piero Manzoni, em 1957

Depois, Allan Kaprow disse algo sobre sermos simplesmente artistas, e disse: "Tudo na vida estará aberto para eles."

26.2.09

ocupar o vazio


talvez o problema seja mesmo a infinidade de possibilidades.


mas, às vezes, o vazio precisa ser sentido.
mergulhar e ser nada no vácuo.

criar sentido.

o sentido é o primeiro material de uma série, através dos quais criarei o tijolo,
com o qual construirei o muro.
o muro e toda a densidade para tapar o buraco.

cimentado de acordo com o meu estado de espírito.
nervos.

uma liga imprevisível.
o muro pode ser desfeito (pela vontade ou não),
ou talvez permaneça cimentado para sempre.


qual o proveito de reabrir um buraco?

veja bem, não é cavar um vazio.

e se reaberto, ainda será o mesmo?


de quantos tipos podem ser os nossos vazios?


é provável que eu encontre entulhos.
e memórias esquecidas.

18.2.09

reflexões sobre Miller IV


"Nunca houve um sonho de vida esplêndido demais, deslumbrante demais, para se encaixar na imagem da realidade. Aqueles que temem estão condenados; aqueles que duvidam, estão perdidos."



"estar perdido" me parece algo bem distinto de "perder-se".

estar perdido é como o minotauro no labirinto. espera por ser encontrado, mas algo mais: não consegue sair.

perder-se é entregar-se. quase que com uma certeza de jamais estará perdido.
pelo contrário, perder-se para não estar perdido.

movimento contra estar parado.

reflexões sobre Miller III


"Porque somos tão cheios de restrições? Porque não nos entregamos em todas as direções? Será medo de perder a nós mesmos? Até que nos percamos, não pode haver esperança de nos encontrarmos. Somos do mundo e para entrar plenamente no mundo precisamos primeiro nos perder nele. O caminho do céu nos leva através do inferno, é o que se diz. O caminho que tomamos não tem importância, contanto que deixemos de percorrê-lo com cautela." !

Henry Miller - O Mundo do Sexo.

alguns comentários:
1 - há algum tempo venho dizendo coisas sobre: desencontro para o encontro.
2 - do contentamento em encontrar confirmado num pedaço de papel que vêm sobrevivendo ao tempo. sim, alguém concorda, eu sei e quero me ater à idéia de que ele não mudou de opinião. ilusão sim!
3 - porque sem cautela podemos sentir. se eu pensasse, não me perderia.

mais importante:

entrega. certeza mesmo sem ter certeza. ir e deixar. certeza para o abandono.
o que o céu significa aqui?
provavelmente é o menos relevante.

17.2.09

reflexões sobre Miller II



reflexões sobre Miller.


Esta imagem:


"Aqueles que não tinham coragem para se conportar com tal leveza, aqueles que se importavam, que sentiam profundamente, em outras palavras, perdiam-se na confusão. Ninguém notava seu desconforto. Simplesmente não existiam."

Henri Miller - O Mundo do Sexo.


Fiquei pensando no turbilhão agitado confinado em um corpo silencioso. Como o silêncio pode ser um grito, um desepero contido apenas por não saber em que direção ir, já que tantas são as direções. Ou melhor, pode haver tanto a dizer.

Assim: por causa de um(s) movimento (grande, rápido), ficamos parados. Não saímos do lugar.

Tudo geralmente também é nada.


Como podemos não existir para os outros?
Quero dizer, uma outra pergunta: pode haver uma ação para não existir?

Deve-se deixar claro, o conceito de não existir é muito diferente do conceito de ausência.

Resolverei não existir para os outros, e ainda assim continuarei existindo.
De certa forma, não existe domínio para a própria existência:

"Ainda que nunca mais a veja, é livre para pensar nela, falar com ela em seu sonho, amá-la, amá-la à distância, amá-la para todo o sempre. Ninguém pode lhe recusar isso. Não, ninguém."

O máximo que consigo é estar ausente. Tenho partes soltas no mundo.

Mas estas partes, misturan-se às outras pessoas, ou pelo menos à idéia que estas fazem de mim.
Sou eu e também não sou.


Por outro lado, não existir é da ordem do involuntário, é sofrer indiferença.

Uma outra solução, é que os outros não existam para mim.
Se eu jamais pensar neles, eles nunca pensarão em mim.

A partir desta ação posso traçar todo um plano para não-existir.
Isto exige determinação, nunca olhar para trás.

Posso não ter controle sobre o meu próprio olhar, e aí, tudo estará perdido.

28.1.09

resignação

uma palavra pinçada.

pega-se de algum lugar,
para soltar em outro.

queria que quase todas as palavras deste texto fossem não-palavras.
não-palavras, não-texto, sem comunicação.

somente a - resignação - [enquanto palavra].
solta neste espaço.
espaço virtual (mas também visual) com prazo de validade-duração.

assim, pergunto:
que forma a palavra resignação toma neste espaço?
é para você mesmo que eu pergunto.
[eu nem estou aqui].
você quem?
[também não está aqui].

como final-introdução, já que Blanchot mesmo diria que ponto de chegada é ponto de partida, solto a palavra novamente:

R E S I G N A Ç Ã O

27.1.09

do resgate de um texto perdido


e o mais curioso,
é que hoje eu li um texto que tinha a ver.
(com o texto perdido/ resgatado).


se houver predisposição, sempre "terá a ver"?

mas isso atualmente tem pouca relevância.
a não ser a surpresa-regozijo-emocional.

no entanto, é sempre interessante uma retomada de pensamento.
nunca é o mesmo.
nunca mais.


na recuperação, algo perdeu-se.
não importa há quanto tempo,
já está no limbo do irrecuperável.

mas no limbo se transforma,
às vezes parece que algo emerge.

alguns diriam: era só o que importava.
ou: era o que importava! (o resto, não).

isto cansa-me.

qual a importância das coisas importantes?

se esta questão parece não fazer sentido,
que seja sentida pelo estranhamento,
pela entrada no terreno da dúvida.

26.1.09

de uma impossibilidade.


(texto de seis meses atrás) :



dar uma forma exata de um pensamento inteiro, através das palavras.
mas me interessam os caminhos. me interessa o -entre- .

começando pelo emissor do pensamento.
emitir é escolher.
as palavras, uma certa lógica de ilustração.

receptar é escolher.
é entender não entendendo, entender do seu jeito, sempre diferente.

convenciono que diferente é diferente do que o outro julga por diferente.
(aqui ou em qualquer outro lugar).

perco-me no entre, como entre que me interessa.
no entre, diversos caminhos.
os caminhos [de onde para onde], na busca dessa forma, é que me interessam.

eu me aproprio das palavras do emissor,
já distorcendo.

e a distorção não é necessariamente mais sensata porque tenho consciência dela.


..........................................................................................................


[e aqui, permito-me uma distorção (do pensamento).
uma leitura origem deste pensamento.
mas para quê explicar! que seja:
(se desejar, clique no título para a fonte)]

Releituras

Era o chá das madeleines de Proust com "Just" do Radiohead.
Mas as madeleines ficaram de fora: o que eu molhava no chá era a música.
Ela estava ali, como uma forma de música, mas para ouvir, só se mergulhada no chá – como as lembranças que causavam as madeleines.
Mas aqui o que acontecia não eram lembranças: era música.

Maya Redin